terça-feira, 19 de janeiro de 2016

A campanha enlutada

1. A morte de António Almeida Santos remete-me para 1985, quando decidi entrar para militante do Partido Socialista. Onze anos passados sobre a Revolução, e há muito concluído o tirocínio na extrema-esquerda maoísta, considerava ser o momento certo para cumprir o desejo de participação cívica no Partido com que sentia verdadeiras afinidades: o PS! E, porque nunca desejaria comprometer-me quando ele estivesse em alta - sempre execrei o comportamento acéfalo dos que agem como um rebanho! - nada melhor do que fazê-lo quando acabara de ter o pior resultado eleitoral de sempre nas legislativas.
Nessa altura Almeida Santos acedera a dar o rosto por um partido que se dividira entre soaristas e zenhistas em função do surgimento do PRD. Apostando numa missão impossível Almeida Santos pedira a maioria absoluta e conseguira metade da percentagem para tal necessária. Iniciava-se então o longo calvário cavaquista!
Ficará sempre a dúvida: tivesse Almeida Santos alcançado o objetivo e formado governo, teria então entrado para o PS? A minha afinidade com os mais fracos para ajudá-los a tornarem-se mais fortes inibir-me-ia pelo menos a fazê-lo nessa altura.
De então para cá ficou-me de Almeida Santos a imagem de um Príncipe completamente às avessas daquele que Maquiavel pretendia instruir para o exercício do poder. Em vez dessa forma sibilina de exercer a política, ele era a versão iluminada em que sempre contou a vontade de se resguardar na segunda linha para nela motivar e aconselhar os que, mais novos, avançavam para a porfiada tentativa de transformar o país para melhor.
Até ao fim, por amizade ou convicção nunca regateou apoios para conseguir aproximar o país de uma imagem idealizada, que para ele sempre ambicionou…
2. A derradeira intervenção pública de António de Almeida Santos ficou, infelizmente, ligada a um momento de enorme mesquinhez de Maria de Belém, quando ela se quis dele servir para menosprezar a grandeza de Mário Soares, só porque este apoia Sampaio da Nóvoa.
Mas o que se poderá ainda dizer de uma candidata, que faz lembrar pateticamente um célebre sketch de Herman José («eu é que sou o presidente da junta!»), quando se põe  em bicos dos pés a afiançar que representa verdadeiramente o Partido Socialista, apesar da indiferença a ela votada pela maioria dos seus militantes e atuais dirigentes?
3. A troika a impor condições, a Comissão Europeia a exigir um orçamento capaz de garantir menos de 2,8% de défice: de repente, parecíamos de regresso aos anos deixados para trás a 4 de outubro, quando Bruxelas ou o FMI dispunham e Passos Coelho a tudo acedia obedientemente com pose de bom aluno. Mesmo que depois levasse a lambebotice a tal extremo, que nunca os objetivos eram cumpridos!
Desta feita António Costa já respondeu: cumprirá as obrigações previstas dentro dos tratados europeus, mas sem pôr em causa os seus próprios compromissos com os cidadãos portugueses. E que bem sabe ter um primeiro-ministro capaz de estabelecer as prioridades pela ordem, que elas devem ter. Primeiro os portugueses, e só depois essas instâncias dispostas a porem em causa a nossa soberania...

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