quarta-feira, 25 de maio de 2016

Acabar com a sensação de vergonha alheia

Quase sempre estou de acordo com o que José Vítor Malheiros escreve na sua coluna semanal no «Público». Daí que seja um leitor assíduo de tudo quanto ele aí enuncia.
No artigo de ontem ele confessou a vergonha, que - enquanto jornalista - sente ao ver telejornais. Pelo sectarismo com que se escolhem as peças a que dedicam maior atenção e pelas opiniões - invariavelmente de gente de direita! - que as acompanham.
De facto são muitos os dias em que o exercício do zapping não resulta: se de um lado troveja, do outro soltam-se coriscos. Ou seja, ora damos com o intragável José Rodrigues dos Santos na RTP1, ora mudamos para a SIC e lá está o «alegre propagandista» José Gomes Ferreira. Tenta-se a TVI e é a Judite de Sousa em pronúncia sopinha de massa a  contar os pormenores sórdidos de algum crime.
Por estes dias não somos tolos, que não percebamos as razões óbvias, que levam os apresentadores a vestirem-se com casacos, camisas ou gravatas da mesma cor da turba dos colégios privados.
Onde recolher informação televisiva minimamente idónea e liberta da tralha neoliberal, que formatou a maioria dos seus protagonistas? O Canal Q costumava ser uma alternativa, mas o «Inferno» anda a derivar em demasia para os trilhos dos canais mainstream.
Como José Vítor Malheiros denuncia, muitos dos opinadores que surgem nos ecrãs, muito particularmente na RTP paga com o dinheiro de todos nós, provém do «Observador», que foi a tentativa canhestra dos Carrapatosos e dos Bottons cá do burgo para criarem os alicerces de uma futura Fox News com a ideologia do «Tea Party» adaptada à realidade portuguesa.
Há dezenas, senão mesmo centenas de comentadores mais interessantes do que a grande maioria dos que nos vendem as suas leituras enviesadas da realidade. Mas esses permanecem silenciados não vá ajudarem os portugueses a reduzirem ainda mais os passos coelhos e as assunções à diminuta dimensão, que merecem as suas propostas políticas.
Há, pois, algo a fazer para mudar as televisões, que nos impingem. Por muito que o aprendiz de escrevinhador da RTP1 grite aos sete ventos, que o estão a censurar.
Calá-lo será, de facto, um ato higiénico, que muito aliviará os ouvidos dos portugueses.  Porque recordando um ditado muito prezado pelo meu defunto pai (“Coitado de quem as ouve, que quem as diz fica aliviado!”) já é tempo de privar essa gente de tais desabafos, porque estamos fartos de nos sentirmos tomados da vergonha alheia de que fala José Vítor Malheiros na sua crónica.

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