sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Sobre a importância de se chamar André Gustavo

As revelações sobre os gastos dos partidos com a eleição dos seus deputados só trouxe uma revelação merecedora de atenção: quanto custou aos que lhe compraram os serviços, a campanha de mentiras e de deturpação da informação emitida pelo Partido Socialista durante a campanha eleitoral para as mais recentes legislativas e que tornaram Passos Coelho e Paulo Portas naquilo que nunca foram: nem governantes competentes, nem patriotas apostados em defender os interesses nacionais do esbulho ordenado pelos seus patrões sedeados em Bruxelas, em Francoforte ou em Nova Iorque.
Foi ele quem criou uma novilíngua, que os dois testa-de-ferro  do PàF repetiram até à náusea e sem a ponta de um mínimo de pudor, para que as coisas continuassem exatamente como estavam: com cortes definitivos nos rendimentos dos pensionistas e dos funcionários públicos e com o enriquecimento cada vez mais obscenos dos amorins, dos azevedos, dos soares dos santos e todos quantos, ao invés da maioria dos portugueses, só viram as suas fortunas crescerem durante os quatro anos de direita no poder. Por isso mesmo pouco importa a importância do que cobrou ao PSD e ao CDS, o publicitário brasileiro André Gustavo mereceu cada um dos muitos milhares de euros recebidos desses clientes a quem fora trazido por gente tão «respeitável» como Marco António Costa ou Miguel Relvas.
Que importa se, de acordo com a também suspeita Justiça brasileira, possa vir a ser condenado pelo envolvimento em casos de corrupção mais ou menos óbvios, sobretudo por ter procurado a fórmula mágica para transformar vigaristas em «políticos» aparentemente impolutos?
A direita o quis e ele o conseguiu: enganar tantos eleitores, fazendo-os crer na narrativa austericida.
Foi, igualmente, interessante ver como as televisões, que serviram de braço armado a André Gustavo para ver bem sucedida a sua estratégia, procuraram agora escamotear a sua importância, embrulhando esta história numa espécie de «roupa velha» onde se misturaram outras histórias como as dos gastos do PS com uma empresa encarregada de lhe preparar os locais onde efetuou os seus muitos comícios.
Há alguma comparação entre as centenas de milhares de euros entregues a um publicitário para ele inventar a carga de veneno, que manipulasse as mentes dos eleitores, e os custos com coisas palpáveis como salas, cartazes, cadeiras, material de som e outros materiais que são fundamentais para o sucesso de uma ação pública de propaganda?
O que se quer escamotear é o facto de, se hoje ainda contam na Assembleia da República com tantos deputados, a direita só o deve a uma gigantesca operação de atirar poeira para os olhos dos mais incautos, que nem consciência tiveram de estarem a ser tratados como idiotas.
E também não deixa de ser muito reveladora a pressa com que Joana Marques Vidal veio negar que a Procuradoria Geral da República tenha recebido pedidos de colaboração dos seus parceiros brasileiros sobre tal figurão. No mesmo dia em que isso foi noticiado logo ela correu a desmenti-lo.
Seria excelente se a “senhora” em causa mostrasse a mesma pressa em pôr cobro às acusações efetuadas contra José Sócrates e que, por sua inteira responsabilidade, continua preso a um processo kafkiano, que não há meio de ser arquivado e concluído com um público pedido de desculpas.

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