quinta-feira, 15 de setembro de 2016

E não é que o Canadá fica aqui mesmo ao lado?

Nos nossos mui seletivos meios de comunicação a mudança operada por Justin Trudeau desde que ganhou as eleições canadianas e reverteu o rumo seguido durante dez anos, pelo governo conservador, quase passa despercebida.
Compreende-se: os donos dos nossos jornais e televisões censuram tacitamente todos os exemplos, que possam convir às esquerdas como demonstrativos da bondade dos seus argumentos. Ora Justin demonstrou ser muito mais do que o jovem político bem apessoado, que teria ganho o poder inesperadamente devido à sua figura ou, sobretudo, a herança do apelido, já que o pai, Pierre, foi um dos mais bem sucedidos líderes mundiais dos anos 70 e 80.
Levando apenas algumas semanas de avanço a António Costa como primeiro-ministro, ele tem-se notabilizado na questão dos refugiados (recebeu 25 milhares de sírios nos meses imediatos à tomada de posse) e na viragem das políticas ambientais do país, que era com o predecessor um dos mais opositores aos objetivos do Protocolo de Quioto  e se tornou num dos seus importantes defensores.
A viragem política a norte provocou uma hostilização não declarada do poderoso vizinho do sul, confirmando a bem conhecida hipocrisia de Obama, ou não tivesse o fracasso do Tratado de Comércio Interatlântico sido associado a tentativas indecorosas da Casa Branca em prejudicar seriamente as trocas entre a Europa e o Canadá.
As expetativas que alimento em relação a este político de uma nova geração resultam, também, da enorme lição dada pelo clip aqui linkado do youtube: em 2012, sabendo-se associado à imagem de «bétinho»,  dificilmente seria compatível com a de credibilidade política, Justin aproveitou a oportunidade de criar um evento beneficente, que incluía um combate de boxe. Para tal lembrou-se de convidar para seu opositor um senador do Partido Conservador, conhecido por ser a imagem do mauzão por excelência, orgulhoso de ser cinturão negro e ter casos frequentes de agressões resolvidas nas barras dos tribunais.
Na altura pensou-se que se trataria de um massacre. O político de direita aproveitaria para dar uma lição no rebento de uma das figuras mais detestadas pelos setores políticos de que era oriundo. Não imaginava, porém, que Justin preparara-se bastante bem para a ocasião e tinha uma tática, que resultou em cheio.
No primeiro e segundo assaltos as previsões pareciam confirmar-se, com Justin a encaixar sucessivos golpes do adversário, que parecia decidido a resolver rapidamente o assunto num esclarecedor KO. Mas depressa se cansou e foi então a vez de se ver ele massacrado até, com o rosto ensanguentado, se ver declarado derrotado pelo ousado competidor.
Essa capacidade de se preparar para os desafios e saber aguardar pelo momento certo para atacar é daquelas características, que estão associadas aos grandes líderes. Podem começar por ser vituperados, aguentam estoicamente os ataques adversários e sabem utilizar em seu proveito as circunstâncias, que andaram sabiamente a preparar.
É, por isso mesmo, que gostaria de acompanhar mais aturadamente na imprensa portuguesa o que vai sendo a mudança política operada no Canadá de Justin Trudeau. Porque muitos dos aspetos da sua personalidade acabam por ser os mesmos que constato em António Costa: a convicção quanto aos objetivos a atingir, a resiliência perante todos os fatores adversos e a imposição de uma agenda de mudança, consonante com as aspirações dos seus eleitores.

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