domingo, 16 de outubro de 2016

A política em ritmo outonal

Apresentado o Orçamento para 2017 confirma-se a sensação de uma direita desnorteada e sem discurso plausível, dividida entre a mentira mais descarada (“os impostos vão aumentar”) ou a manipulação mais grotesca de argumentos absurdos (“as desigualdades sociais vão crescer”).
O vazio ideológico vai atingindo tal dimensão, que vemos Passos Coelho cada vez mais isolado na sua torre de marfim - agora foi Moreira da Silva a abandonar o cerco donde Miguel Relvas e Vítor Gaspar há muito tinham fugido! - com a defesa entregue a “generais” tão pouco credíveis como o são Maria Luís Albuquerque, Luís Montenegro, Amaro Leitão ou mesmo Miguel Morgado!
Se dermos tratos à cabeça para perspetivarmos quem existe no PSD com capacidade para dar a volta ao seu declínio inevitável quem resta? Rui Rio, que é cada vez mais um daqueles dinossauros excelentíssimos, que já ninguém tem pachorra para ouvir? Santana Lopes, que se diz interessado em repetir como farsa uma liderança, que constituiu uma tragédia? José Eduardo Martins, que repete intervenções em várias televisões a ver se alguém se lembra dele?
Algo está podre no reino do edifício da São Caetano à Lapa e não há Diabo algum que venha levá-lo consigo.
Quanto ao CDS passa-se algo semelhante: Paulo Portas também foi tratar da vidinha e Assunção Cristas não encontra outros argumentos, que não sejam os de mentir descaradamente com todos os dentes, que tem na boca. Poderá ter alguns ganhos no eleitorado laranja dececionado com o seu líder, mas as eleições  - a começar pelas açorianas em que quis apostar numa candidata olhada com suspeição pelos seus militantes! - têm todos os ingredientes para correrem mal.
Ademais, e a direita, apesar de medíocre no ideário é-o bem menos nos esquemas manhosos para dopar os resultados das eleições, quando tem por si as alavancas do poder, vê finalmente a esquerda a ser inteligente na gestão orçamental. Por isso sabe que o facto da sobretaxa acabar para um estrato importante do eleitorado em setembro do próximo ano ou ser garantido nesse mesmo mês um desconto de 25% nos passes sociais para todos os estudantes universitários, ainda contribuirá mais para o sucesso dos partidos da maioria parlamentar nas próximas autárquicas. Também então o Diabo estará longe de chegar.
E em 2018, com os efeitos dos investimentos feitos no âmbito do Programa 2020, o crescimento tem todas as condições para sair dos índices atuais e cumprir os objetivos da Agenda para a Década proposta por António Costa há mais de um ano.
Não admira que alguns dirigentes do PCP já refiram nas entrelinhas a possibilidade da integração de comunistas no governo, que surgirá na sequência das eleições de 2019.  E assim sucederá possivelmente com o Bloco dando longa vida a um projeto político, que veio para ficar por muito que alguns dentro do PS continuem a resmungar por não terem eles próprios pedalada para acompanharem uma evolução, que os torna politicamente obsoletos. 
Jackson Pollock, Autumn Rhythm


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