terça-feira, 25 de outubro de 2016

A preocupante doença que parece regressar ao Bloco de Esquerda

Eu, que até tenho apreciado o comportamento do Bloco de Esquerda nos últimos meses, depois de lhe ter condenado o frete à direita por ter precipitado o fim do governo de José Sócrates, volto a olhá-lo com a desconfiança que, há umas semanas, levava um seu conhecido ex-militante a explicar porque o deixou: voltaram a imperar os calculismos outrora tidos por Lenine como sintomas de uma doença infantil, traduzidos na perversidade de se dispor a servir de idiota útil à direita ao cuidar de fazer da Caixa Geral de Depósitos um problema nacional.
Se eu fosse António Domingues estaria nesta altura muito tentado a bater com a porta e deixar que quem arranjou o problema cuidasse de arranjar uma solução. Seria péssimo para o país, seria dramático para a viabilidade da Caixa Geral de Depósitos, mas quem quer oferecer amendoins como ordenados, que trate de arranjar os macacos dispostos a aceitá-los. Porque no setor em causa é disso mesmo que se trata: de amendoins!
Numa situação assim, quem é que Catarina Martins teria para substituir a então demissionária administração da Caixa? Louçã, que parece voltar a fazer o papel de Darth Vader da política nacional, quando preferia juntar-se à direita na condenação do governo socialista do que aceitar as pontes então propostas por Sócrates para um arremedo do que viria a ser a solução governativa atual?
Nunca o BCE aceitaria qualquer Louçã, que lhe apresentassem como alternativa, porque nem contaria com experiência de gestão bancária, nem com as certificações para tal necessárias. Seria, igualmente, curioso verificar até que ponto a instituição presidida por Mário Draghi aceitaria uma remuneração tida por desprestigiante para qualquer administrador dependente dos seus financiamentos.
Quem então serviria? Nesta altura, e com as competências dos que António Costa escolheu para a Administração da Caixa, serão muito poucos e nenhum disposto a ganhar valores que parecerão fortunas para muitos, mas são os definidos atualmente pelo mercado.
Numa sociedade ideal e socialista, que ainda está muito distante, talvez as propostas irresponsáveis do Bloco façam sentido. Nesta altura só soam como irritantemente demagógicas. Sobretudo, porque comportam essa carga de populismo de que uma esquerda inteligente se deveria livrar.
É que se Catarina Martins quer levar o país romper com o euro e com a própria União Europeia, mais depressa conseguirá devolver o poder a um ávido Passos Coelho. Duvido é que, nas eleições seguintes, o eleitorado do Bloco bastasse para sequer garantir metade, quiçá um terço, dos deputados atualmente pertencentes aos seu grupo parlamentar.
«A Morte de Marat» de J.L. David


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