domingo, 25 de dezembro de 2016

Enquanto se vão comendo rabanadas

Chegamos ao dia de Natal e o país político fica em momentânea letargia para que os crentes e os não crentes na transcendência cristã possam trocar presentes e ganhar uns quilos na balança.
Mário Soares continua em estado crítico não havendo quem acredite num qualquer milagre que o pudesse devolver à lucidez com que nos brindou décadas a fio, mesmo quando a sua ação coincidiu com o discutível socialismo escondido na gaveta.
Ficou-se, ainda assim, a saber-se que estava o Bloco a discutir com o PS a forma de assegurar o aumento do salário mínimo e, perante uma possibilidade mais favorável do que a acertada na Concertação Social - um abaixamento da TSU aos trabalhadores em vez da concedida aos patrões - decidiu sabotar a negociação com um cartaz em que dava os 557 euros como adquiridos. Ora a solução proposta pelo governo passava por maior salário real depois de impostos, mesmo que à custa de aumento mais moderado do valor nominal.
O episódio só confirma o que já se sabe: com o PCP a discussão é pão, pão, queijo, queijo. Ou há acordo ou não há. No caso do Bloco persiste a lógica de comportar-se à mesa das negociações de uma forma e depois condicioná-las com habilidades muito discutíveis fora desse contexto.
Soube-se, igualmente, que mais de quatro centenas de juízes procuraram apoio junto de Marcelo para que obstasse legislação, que viam como atentatória da sua independência. Não queriam, nomeadamente, arcar com mais trabalho do que têm andado a fazer, dificultando assim os anseios coletivos quanto a uma Justiça mais célere e mais alargada geograficamente.
De Belém levaram raspas, mas há que estar muito atento à reação corporativa dessa classe muito niquenta: a última vez que um primeiro-ministro lhes mexeu nos direitos - o do tempo de férias! - viu-se o que lhe aconteceu. Bem pode António Costa precaver-se que a casta justiceira não é para brincadeiras.
Na oposição crescem os detratores de Passos Coelho dentro do seu partido, mas as contas vão sendo feitas com cautelas, porque um eventual congresso extraordinário já colidiria com a pré-campanha para as autárquicas. Para já o ainda líder laranja pode respirar descansado mais uns meses. E, convenhamos, que as esquerdas agradecem a conveniência de manterem um tal bombo para o uso inclemente das suas baquetas.
Uma última referência nacional para a recusa de quase todos os partidos em darem provimento à proposta do PAN para que se acabe com essa indignidade “desportiva”, que se chama tiro aos pombos. Infelizmente só o Bloco se associou à tentativa de proibição de um exemplo de barbárie no relacionamento com os animais.
Olhando para outras latitudes conclui-se que, sabendo-se que nos mais recentes atentados terroristas, os seus autores deixaram documentos pelos quais puderam ser identificados, conclui-se pelo seu narcisismo, pela vontade de serem visíveis, mesmo que à custa de tantas vidas inocentes.
Como curiosidade final fica a novidade de vermos a Roménia agora dirigida por uma primeira-ministra muçulmana. Por muito que os racistas e os fanáticos católicos pretendam uma Europa exclusivamente branca e cristã, a multiculturalidade explicita-se como uma evidência incontornável. 
Hans Erni, «Boxing» (1983)

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