quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

A dificuldade de dar o braço a torcer

1. Nos últimos dias tem sido um fartote de opiniões sobre o estado da economia portuguesa. Houve a Fitch, a Moody’s, a OCDE, todas elas a reconhecerem efeitos positivos da governação de António Costa, mas sem quererem dar o braço a torcer quanto a terem-se enganado nas previsões anteriores. Por isso “descobriram” quão inquietante está o setor bancário, embora nada tenham pressentido quando ele estava, de facto, sujeito à criminosa negligência de Maria Luís Albuquerque.
Será curioso constatar por quanto tempo poderão manter-se colados aos preconceitos austeritários se, como desejamos, o crescimento se consolidar, o desemprego e a dívida a reduzirem-se. Que argumentos encontrarão para iludir o incómodo de se verem desmentidos nos pressupostos ideológicos relativamente a quem se apoia numa maioria de várias forças de esquerda?
2. Confusas devem andar as cabeças dos militantes comunistas com as posições ora ouvidas a Arménio Carlos, ora a Jerónimo de Sousa. O primeiro a antecipar ameaças à solidez do governo sob o argumento de estarem «praticamente esgotados» os acordos à esquerda. O segundo, no dia seguinte, a afiançar exatamente o contrário.
É certo que a Dialética deve ser particularmente acarinhada por quem se reclama do marxismo, mas também não é preciso exagerar!
3. Otimista me confesso sobre o rápido choque de Trump com a realidade, de pouco lhe servindo os truques utilizados para chegar onde chegou. A Secretária para a Educação, Betsy DeVos quase passou pela vergonha de, em quase trinta anos, ter sido chumbada no Senado. Valeu-lhe o desempate garantido pelo vice-presidente, situação até agora inédita, mas que se arrisca a repetir tão só se vão confirmando as defeções de republicanos da sua influência. Para já são alguns dos pretéritos apoiantes a fugirem dele como gatos da água fria. Kenny West ou o dono da Uber já se puseram a milhas. Muitos outros os seguirão…
4.  A vitória do SPD já não é uma hipótese académica nas próximas eleições alemãs - é o que demonstra a mais recente sondagem publicada no «Bild». Martin Schultz pode vir a ser, de facto, o próximo chanceler ajudando a virar à esquerda um continente demasiado tempo sujeito ao vazio ideológico dos partidos filiados no PPE, como é o caso do de Passos Coelho. Se  a isso acrescentarmos a comatosa situação da direita francesa, enredada em processos judiciais, e o facto de Benoît Hamon ter saltado nove pontos nas sondagens em apenas semana e meia, pode-rá conjeturar-se futuro próximo mais auspicioso do que certos urubus têm andado a pressagiar.

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