quarta-feira, 19 de abril de 2017

Uma primeira-ministra troca-tintas

O que espanta em muitos comentadores da realidade política é a insistência em lerem-na de acordo com o que dizem as sondagens, quando elas vão no sentido do seu wishful thinking. Por isso os títulos dos jornais apressam-se a dar Theresa May como vencedora antecipada nas eleições que, por puro oportunismo, marcou para 8 de junho. Os austeritários, que dominam a comunicação social portuguesa bem gostaria de dar Jeremy Corbyn defenestrado por se ter revelado demasiado à esquerda para os seus gostos démodés.
Esquecem-se o quão viral se tornou nas horas seguintes o clip com a ainda primeira-ministra inglesa a afiançar não antecipar eleições, mesmo que as sondagens a favorecessem, e agora dá o dito pelo não dito com uma ligeireza só comparável ao seu comportamento na questão do Brexit mediante a atitude troca-tintas de, ora se colar a um lado, ora a outro, de acordo com as conveniências.
Ao fazer do reforço da maioria absoluta, um referendo não assumido a essa mesma questão, pode confrontar-se com surpresa tão desconcertante como a que mandou o antecessor para o tal caixote do lixo da História. É que soma-se-lhe a forte probabilidade de a independência da Escócia vir acrescentar dúvidas aos que temerão ver o Reino Unido reduzido à Inglaterra, ao País de Gales e, sabe-se lá por quanto tempo, à Irlanda do Norte.
Com tão frequentes desvios entre o que dizem as sondagens e o que resulta do escrutínio das urnas, eu não me apressaria a dar Theresa May como inevitável vencedora. É que, não só os Trabalhistas terão amortecido o choque de quase terem perdido todos os seus habituais escoceses para os nacionalistas, como os liberais-democratas recuperarão à custa do seu posicionamento abertamente anti-Brexit.
Quanto ao UKIP não contará para nada, porque não deixa de ser um partido de estarolas, cujo definhamento está garantido tão-só Farage jogue na duplicidade de vituperar as instituições europeias, mas usufruir dos elevados rendimentos por ela propiciados como deputado.


Sem comentários:

Enviar um comentário