quinta-feira, 11 de maio de 2017

A pobreza extrema, que votou em Trump

Não é que seja uma grande novidade, mas uma reportagem de Alana Semuels na revista  «The Atlantic» dá conta da dramática situação social vivida no Ohio, um dos tais Estados da Cintura da Ferrugem, que penderam para Donald Trump na mais recente eleição presidencial, garantindo-lhe o acesso à Casa Branca. 
O desespero de parcela significativa dos seus cidadãos foi tal que se deixaram iludir pelas promessas vãs do demagogo, hábil no recurso a palavras, que sabia serem música para os ouvidos de quem não encontrava motivos para qualquer esperança.
No passado os homens eram o sustento principal em muitas áreas do Condado de Ross, onde a jornalista esteve a preparar a reportagem. As fábricas eram muitas, os ordenados  satisfatórios  e as mulheres podiam cingir-se ao papel de dona-de-casa, tomando-o como a mais bem sucedida das realizações pessoais.
Hoje a situação alterou-se drasticamente: as  fábricas que não se deslocalizaram, automatizaram-se e a maioria dos homens deixaram de ter linhas de produção onde ganhassem o sustento das famílias. Desocupados, muitos viraram-se para o álcool ou para as drogas, com as overdoses a constituírem autêntica epidemia. Os mais contidos não deixam de se viciar na televisão, passando dias a fio sentados nos sofás sem quase reagirem. Exilados da dolorosa realidade, que os rodeia, encontram distração nos infindáveis reality shows.
Parecendo ter-se cumprido a previsão de outra jornalista, Hanna Rosin, que publicara na mesma revista uma reportagem em 2010 sob o título «The End of Men» - em que antevia que, na sociedade pós-industrial seriam as mulheres a conseguirem empregos na economia social, já que os dos homens desapareceriam - a inversão verificada na definição entre homens e mulheres sobre a responsabilidade da sobrevivência da família, redundou na pobreza e na solidão delas, sem espaço para a sua efetiva capacitação.
De entre as que a repórter ouviu foram muitas que lembravam com saudade os tempos em que os homens iam para os empregos, elas ficavam a cuidar das casas e das famílias, e essa pacatez significava a felicidade quase absoluta. Agora algumas delas espantam-se como foi possível verem-se enviuvadas, porque os conjugues, tão sensatos no passado, se tinham afundado no inferno dos opiáceos.
Em Scioto, no sul do Estado, 42% dos homens entre os 25 e os 54 anos estão desempregados ou fora do mercado do trabalho. O ambiente de desespero, de frustração, de catarse através de algum «vício»…
Se a América convivera bem, durante décadas, com a pobreza extrema das suas populações de cor, a relativa novidade é o quanto ela já se verifica nas que outrora lhe pareciam imunes.
Hoje, quer os afro-americanos, quer os brancos, surgem irmanados na mesma condição de marginalizados pela dinâmica capitalista. E é pena, que ainda não se tenham conseguido conjugar para melhor defenderem os seus direitos e interesses. Essa união de desvalidos é a única saída para quem não vislumbra mais do que o beco sem saída onde se enfiou!

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