quarta-feira, 31 de maio de 2017

Esquecidos os números ficam as «parole»

Não surpreende que, nas Jornadas Parlamentares organizadas no Algarve, o PSD tenha decidido abandonar o discurso baseado nos números: eles têm-lhe sido tão madrastos que mantê-los na propaganda só significava demonstração de masoquismo. Mas avançou com outra proposta não despicienda de significado: a redução de deputados.
Nada como cavalgar uma boa onda populista, que tanto costuma animar as conversas dos leitores do pasquim da Cofina. Mas também aí as alaranjadas cabeças poderão estar a apostar em cavalo errado: ao contrário do que com eles sucedia, este Governo tem valorizado a importância dos políticos, mostrando quão grande é a diferença entre os competentes e honestos em comparação com os ineptos e os corruptos.
Como alguém comentava nas redes sociais o PSD até nem precisa de se preocupar com o assunto: se ambiciona ter menos deputados, nas próximas eleições o povo satisfar-lhe-á a vontade.
No entretanto, e  a um ritmo quase quotidiano, vão-se somando as boas notícias: o emprego no setor da construção civil está a conhecer crescimento como já não se via há cinco anos, a confiança dos consumidores nunca atingiu índice tão alto desde que passou a ser medido (Novembro de 1997) e o comissário europeu Pierre Moscovici apelou às agências de rating para que atentem bem no quanto de positivo está a passar-se em Portugal.
Adicionalmente até as Nações Unidas veem Portugal como um notável exemplo de eficácia na luta contra a Sida, tendo-se alcançado em 2016 os objetivos apontados para 2020 quanto à redução de novos casos com VIH.
Para além do problema da dívida, que uns consideram insolúvel sem uma renegociação e outros vão silenciando à espera de melhor oportunidade para colocar a questão onde ela deve ser considerada, temos iminente um constrangimento importante: a possibilidade de virmos a ter de assimilar muitos refugiados provenientes da Venezuela onde o caos inferniza as perspetivas de futuro do meio milhão de portugueses.
Depois do sucesso conseguido com a integração de mais de meio milhão de retornados no pós-25 de abril, o país pode deparar com desafio semelhante. O que para as esquerdas trará um problema, que convirá considerar atempadamente: tal como os retornados de 1975 vieram dar apoio eleitoral ao PSD e ao CDS,  com a maioria a diabolizar os socialistas e os comunistas, que apontaram como «culpados» de todos os seus males, os milhares de refugiados vindos de Caracas terão muitas razões para desconfiarem de quem se assemelha no vocabulário ao chavismo. Apoiá-los desde a primeira hora, contactá-los, demonstrar-lhes serem as esquerdas as forças políticas mais solidárias com o seu momento presente constituirá uma tarefa que não se poderá adiar para demasiado tarde…
Uma referência final para o cantinho Trump: os apertos em que se encontra Jared Kushner, genro e conselheiro do ainda presidente, confirma como o mandato tende a polarizar-se entre a farsa e a tragédia, entre os que riem para não chorar e os que irão obrigatoriamente carpir as perdas que sofrerão, quando a Administração recorrer à receita do costume, quando está acossada: uns mísseis tomahawk para aqui, uns drones artilhados para acolá, e um discurso patriótico que só enganará os mentalmente mais indigentes. Que são muitos, infelizmente...

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