quinta-feira, 20 de julho de 2017

A malignidade de uma certa forma de ser português

Em poucos dias um certo portugalzinho venal - tão presente no discurso das oposições de direita ao atual governo - veio ainda mais ao de cima com o episódio de racismo na esquadra de Alfragide, a homofobia manifestada pelo médico Gentil Martins ou as declarações trumpistas de um candidato à Câmara de Loures.
Se somos capazes do melhor, quando nos excedemos nas virtudes, conseguimos ser abjetos, quando estão em causa os defeitos. E, de facto, queremo-nos politicamente corretos, quando nos comovemos com os afogados do Mediterrâneo, ou iludimo-nos com o nosso cosmopolitismo ao fingirmos nada transparecer perante dois homens a beijarem-se na boca ou duas mulheres de mão dada, ali a nosso lado no metropolitano. Mas, mesmo quando queremos prevalecer os nossos valores ideológicos aos preconceitos de uma educação donde os laivos salazarentos ainda tardam em extirpar-se - basta a presença nefasta das religiões para que essa «herança» persista! - há algo nessas notícias, que travam a indignação, quase nos levando a aceitá-las como «naturais». E é esse o caldo de cultura em que se tornam possíveis os Berlusconis, os Trumps, os Orbans ou os Erdogans deste nosso insatisfatório presente.
É pelos perigos implícitos nas suas palavras e atos, que deveremos manifestar o mais veemente desacordo com essa gente sórdida. Porque, se os aceitamos como parte da paisagem em que nos situamos, depressa a veremos toldada pelos mais cinzentos tons. Aqueles que são acompanhados da sensação de, depois de presos e silenciados uns e outros, também chegar a vez de nos virem buscar. Pelo que pensamos, pelo tipo de sociedade que ambicionamos.

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