quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Será difícil vê-la vencer, mas defendo a causa catalã

Eu que sempre detestei o franquismo e considero a monarquia dos Bourbon um insulto para a memória dos que morreram fuzilados na sequela da Guerra Civil, estou assumidamente do lado dos catalães. Porque querem exercer a sua vontade pelo voto e instituir a República como regime: dois argumentos mais do que substantivos para merecerem-me a simpatia.
É anticonstitucional? Não parece que as autoridades alemãs ou o Vaticano tenham mostrado grande respeito pela lei fundamental jugoslava, quando fomentaram a guerra secessionista do grande país balcânico. Ou tenham «reconhecido» a independência do Kosovo sem sequer ali se ter organizado um referendo, que demonstrasse ser essa a vontade do seu povo.
Não nos convém por termos no resto da Ibéria um dos principais destinos das nossas exportações? É verdade, mas as nossas empresas já souberam contornar dificuldades não menos complicadas como as suscitadas pela quase bancarrota angolana.
Abre caminho para outros secessionismos, bem menos simpáticos (Flandres, Padania, etc.)? É verdade, mas não são esses os riscos da Democracia? Ou ela serve-nos nuns casos, mas é dispensável noutros? O combate aos populismos das direitas mais extremas - o que não é o caso na Catalunha! - não se faz com as sociedades colocarem-se face a eles na defensiva, mas combatendo-os ativamente com políticas a discursos abertamente antifascistas.
Arrisca-se Filipe VI a ver-se apenas rei de Castela e de Aragão, perdendo sucessivamente o País Basco, a Comunidade Valenciana, a Galiza, quiçá mesmo a Andaluzia. Porque não se, apesar dos belos poemas de Machado, os campos castelhanos estão tão empapados com a sanguinária opressão dos seus servos e dos que a corte madrilena ansiou acrescentar à mesma submissão? Enquanto Madrid não expulsar os monárquicos para exílios inócuos desmerece de qualquer respeito, que tenhamos pela sua condição de Estado.
Na forma como recuou, Puigdemont soube entalar o inábil Rajoy: quando este julgava tê-lo á mercê dos seus exércitos, viu-se com o menino nos braços e no paradoxo do que possa fazer, ciente de qualquer das opções virar-se contra si mesmo e o seu partido. Se utilizar o artigo 155  tira o resto da máscara, que lhe esconde a condição de filho putativo do ditador, se for para conversações, terá de ceder mais um pouco na direção que não quer. O nada fazer poderá durar uns dias, umas semanas, mas é no seu sitiado poiso que a usura crescerá. 

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