sábado, 10 de fevereiro de 2018

A África do Sul, trinta e três anos depois


Há trinta e três anos a repórter francesa Martine Laroche-Joubert foi fazer uma reportagem na África do Sul, acompanhando as mulheres brancas de uma organização muito ativa na luta contra o apartheid. A peça, então transmitida na televisão francesa, mostrava a odiosa violência cometida pelas autoridades policiais contra miúdos de 12 e de 14 anos, que haviam sido encarcerados por participarem em manifestações contra o regime.
Agora Martine regressou a Capetown ao encontro de uma das militantes de então, que lhe serviu de guia para ir ao encontro das antigas companheiras e dos miúdos então entrevistados.  Todos eles adultos, é com emoção que recordam como eram nesse tempo longínquo em que era quotidiana a repressão musculada contra a população dos bairros onde viviam. E festejam o reencontro com as mulheres, cuja coragem e determinação, lhes demonstrava que, mais do que uma questão de cor, o que efetivamente os oprimia era uma forma de encarar a organização da sociedade.
As feridas, porém, tardam em cicatrizar: subsiste um enorme fosso entre os que têm tudo e os que nada possuem, a começar pelo emprego, bem escasso, só acessível a uma parcela insuficiente da população. Daí a violência decorrente de, para muitos, não existir outra forma de angariarem sustento. Mas, em brancos e negros, converge a esperança na liderança de Cyril Ramaphosa como provável futuro presidente do país, pondo fim à repulsiva corrupção de Jacob Zuma, que tarda em ceder o cargo a quem o cumpra com outra competência e transparência.
É um dos mistérios que não tem explicação: porque será que Mandela escolheu para sucessor o ineficaz Thabo Mbeki em vez de Ramaphosa, já então tido como o mais indicado para lhe suceder? Dá ideia que, só em breve, a África do Sul poderá reatar com as expetativas de esperança, que o fim do apartheid chegou a suscitar em quase todos quantos o receberam com alegria.

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