terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Os despojos do dia (internos e externos)


1. Mais do que campeonatos da Europa desta ou aquela modalidade, importa é levar o país a ganhar troféus com substância naqueles que têm a ver com o bem estar das populações, e não apenas com a autoestima de alguns. Por isso se se aponta como positivo o facto de Portugal figurar nos vinte primeiros lugares dos países onde há menor probabilidade de um bebé morrer no primeiro mês de vida, esse 17º lugar não nos deverá contentar assim tanto. Bom, bom, será quando também aí subirmos ao pódio.
2. Quer António Costa, quer Pedro Marques já saudaram a disponibilidade do novo PSD para consensos em reformas para o país, mas muito corretamente reafirmaram a importância de para elas serem convocados os demais partidos da maioria parlamentar. E com a linha vermelha devidamente sublinhada na discussão sobre o futuro da Segurança Social: que ninguém volte a propor cortes nas pensões.
Num contexto em que as coisas correm bem ao governo a eventual colagem do PSD ao esforço investido num país melhor na próxima década poderá isolar o CDS no radicalismo extremista, que caracteriza Assunção Cristas & Cª. Reduzindo-o novamente à dimensão do partido do táxi.
3. Continua a proliferar na opinião publicada em jornais ou comentada nas televisões o elogio a um político do CDS por ter saído do armário.
Tenho-me eximido de referir o assunto, mas vejo-o tão badalado, que me apetece adotar uma máxima anarquista com quase meio século e considerar que se a homossexualidade de Adolfo é um facto, o problema é dele e de quem com ele privar.
4. Os nuestros hermanos continuam a ter da noção de vizinhança uma conceção muito egoísta, como se o lixo do seu quintal não seja problema, mesmo quando extravasa para o nosso. Inteiramente justificados, pois, os protestos sobre a exploração a céu aberto em Retortillo a 40 quilómetros da nossa fronteira. Até porque deste lado já se conhece de ginjeira o hábito de as concessionárias ficarem com o lucro do negócio e deixarem para os prejudicados os encargos com a limpeza dos danos ambientais que causam.
5. Excelente notícia a do iminente acordo das milícias curdas de Afrin com Bashar al Assad, que isola ainda mais Erdogan numa altura em que este julgaria contar com a Rússia e com o Irão para lhe salvaguardarem as costas dos arrufos com Trump.
Nunca considerei natural a cumplicidade dos curdos com os EUA, mas não imaginei provável este realinhamento, que tende a clarificar a consolidação do regime sírio e a perda de influência da NATO num espaço geográfico, que não deveria ser sequer o seu. Aliás, bem vistas as coisas, a NATO, tal qual sucedeu com o Pacto de Varsóvia, já nem deveria existir...
6. Potencialmente determinante poderá ser a revolta estudantil norte-americana contra Donald Trump e a National Riffle  Association após o mais recente massacre numa escola secundária. Se o lobby  das armas é fortíssimo será bom que contra ele se erga uma forte oposição geracional, que tenda a denunciá-lo como perverso que é.
Num ano em que há eleições parciais para o Senado e para o Congresso esta súbita militância antirrepublicana poderá virar do avesso os mais recentes desequilíbrios políticos nas terras do tio Sam.
7. Perigosa é por outro lado a indigitação do ministro espanhol da Economia para suceder a Constâncio na vice-presidência do BCE tendo em conta que Guindos sempre foi um austericida entusiasta. E se Draghi vier a ser substituído por um alemão da pior estirpe, Centeno bem poderá sentir dificuldades acrescidas à frente do Eurogrupo.
8. De Espanha e da Alemanha vêm, entretanto, as notícias políticas mais inquietantes: a queda do fraco governo de Rajoy ainda não encontra uma oposição de esquerda suficientemente forte para lhe servir de alternativa, ainda vigorando o ilusório encanto de muitos com a receita liberal do Ciudadanos. Sanchez, Iglesias e Garzon estão obrigados a trabalhar bem mais para que as coisas mudem do estado letárgico, que tem existido desde que Zapatero se revelou um indesculpável flop.
Dececionante, igualmente, a mudança de Martin Schulz do Parlamento Europeu para a política interna do seu país: uma sondagem credível dá o SPD atrás da extrema-direita continuando a afundar-se em mínimos históricos. A receita implementada por António Costa tarda em ser adotada nos países onde mais sentido faria vê-la replicada...

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