domingo, 24 de outubro de 2010

Um Ambiente de fim de ciclo

As negociações entre o Governo e o PSD para viabilizar o Orçamento para 2011 estão a decorrer,  mas já estamos bem cientes do advento de tempos difíceis. Com este Governo ou com o dos seus opositores directos o resultado traduzir-se-ia sempre num violento apertar do cinto. Sem se questionar o que  causou esta crise, mormente se o tão incensado capitalismo ainda é capaz de dar resposta satisfatória ao desejo colectivo de uma vida mais compensadora.
Até os mais insuspeitos colunistas de jornal antevêem violentas tempestades futuras.
Fernando Sobral, por exemplo, afirma no «Jornal de Negócios»: estamos a assistir ao início da retirada do Estado de sectores onde equilibrava os desequilíbrios sociais. E isso vai implicar uma certa forma de análise e discurso político. E uma nova relação do Estado com os cidadãos. Num país pobre como Portugal, habituado ao ombro do Estado, esse assunto vai ser escaldante. E é isso que a nossa classe política, na generalidade, nem sequer pensa.
Outro colunista nada conotado com o Governo também constata: lidamos muito mal com a responsabilidade, mas enfrentamos muito bem a fatalidade. Razão para culparmos a situação actual em função da crise internacional,  sem nos atermos às nossas próprias fragilidades em tudo quanto agora ameaça desabar sobre as nossas cabeças.
O pacote de medidas é, de facto, muito violento, sem suscitar maior reacção, que o de um dia de greve geral para meados do mês que vem. Mas, desconfiemos da aparente acalmia com que vivemos. Como dizia Miguel de Unamuno o povo português tem, como o galego, fama de ser um povo sofrido e resignado, que tudo suporta sem protestar, a não ser passivamente. E, no entanto, há que ter cuidado com os povos como esses.  A ira mais terrível é a dos mansos. E como se diz num dos blogues mais interessantes: quando se luta nem sempre se ganha, mas quando não se luta perde-se sempre.


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