sábado, 12 de março de 2011

Mediocridade perigosa

Em dia de manifestação da chamada Geração Rasca fica evidente a falta de pontaria ideológica desses jovens cujos cursos não garantiram empregos, que não os precários e mal remunerados. É que virando as suas críticas contra o Governo em particular, e a classe política em geral, eles esquecem uma evidência demonstrada ainda durante a semana em curso: durante o ano transacto, os mais ricos de Portugal enriqueceram superlativamente, exactamente na mesma dimensão em que a maioria empobreceu. Replicando, aliás, o que sucedeu um pouco por todo o lado.
E, no entanto, as críticas de Soares dos Santos ou de Belmiro de Azevedo ao actual estado das coisas são levadas a sério, quando afinal são eles os maiores beneficiários do crime social actualmente em curso em todo o mundo capitalista.
Quando é que veremos esse protesto canalizado verdadeiramente contra a cupidez desses milionários, que enriquecem graças aos salários de miséria pagos a trabalhadores sem quaisquer direitos?
Por agora há que reconhecer a justeza da análise de Baptista Bastos, quando relaciona os perigos iminentes de explosões sociais com a curteza de vistas dos actuais contestatários: a mediocridade puxa à mediocridade, e como a mediocridade já por aí assentou fundos arrais, a coisa está cada vez mais perigosa.
Noutro registo e no mesmo órgão de informação (Jornal de Negócios de 11/3/2011), Fernando Sobral anuncia uma extinção anunciada: a classe média que cresceu após a entrada na União Europeia está agora a provar o sabor da dívida, a que foi motivada pelo capitalismo popular e pela compra de casas que pensava irem valorizar-se até ao céu. Hoje não há dinheiro para pagar o crédito do passado e o Estado deixou de ser a segurança do futuro. A classe média está perdida e os seus filhos sem futuro. Há assim uma bomba relógio à espera de rebentar, mesmo que a classe política e, nalguns casos, empresarial, não perceba isso.
É verdade que o pessimismo de Sobral chega a exasperar como se não sobrasse margem para a esperança de novos amanhãs, que cantem. Para Bastos e para este escriba, a condição ideológica faz perdurar a velha máxima segundo a qual atrás de tempos, tempos vêm… E, no fim de todo este sofrimento acabará por vingar essa luminosa janela...

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