quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Um Governo mentiroso e um eleitorado desorientado

Um destes dias o «Diário Económico» dava uma notícia, que não tem o condão de surpreender, porque, desde há muito se percebeu a obrigatoriedade do país comprar o TGV se quiser contar com o apoio dos seus parceiros europeus: afinal, Portugal não vai ter uma, mas duas linhas de velocidade alta ou de alta prestação. Portugal terá de garantir que a viagem Lisboa-Madrid se fará, no máximo, em 2h30, para que o comboio seja competitivo com o avião. Em suma, o Governo terá agora de arranjar uma boa desculpa para justificar a construção das duas linhas que os técnicos sempre disseram ser necessárias.
Afinal, era melhor que tivessem estudado o problema antes de se pronunciarem contra o projecto. Pelo menos, evitavam ziguezagues políticos e ter de desmentir amanhã o que afirmaram ontem com grande veemência.
Mas os desmentidos entre o que o PSD de Passos Coelho se propunha fazer na oposição e ao que corresponde a realidade na governação, não se queda por aí. Um texto de Bruno Proença recorda bem como Passos Coelho e os seus apaniguados fustigaram o Governo Sócrates por nada fazerem para a redução dos chamados consumos intermédios. Mais ou menos há um ano, Passos Coelho explicava a receita de resolução de tal problema: Antes de qualquer outra medida, deviam-se atacar as gorduras do Estado. Nos ministérios, nas empresas públicas, nos hospitais, nas escolas viviam todos com enormes desperdícios da água, da luz, de papel e todos os outros materiais. Resolvendo isto, estava meio caminho andado para consolidar as contas públicas. Na altura, Carlos Moedas, hoje secretário de Estado responsável pelo acompanhamento do memorando com a ‘troika', citava estudos que falavam de cortes de milhões e mais milhões nos célebres "consumos intermédios". E não foi o único a defender essa teoria. O actual ministro da Economia, ainda na pele de professor universitário, também falou abundantemente sobre a mesma teoria no seu último livro - "Portugal na Hora da Verdade".
Pois bem, no primeiro Orçamento do Estado da responsabilidade deste Governo, o que é que aconteceu aos consumos intermédios? Nada. Literalmente tudo na mesma.
Será que alguém se esqueceu dos cortes nos consumos intermédios? Num ano, passou de prioridade à irrelevância.
Há óptimas ideias no papel que morrem aí.
É por isso que Octávio Teixeira, vê no Orçamento do Estado para 2012 uma inadmissível brutalidade, própria de quem tem uma notória aversão aos trabalhadores, quer aos que estão no activo, quer nos que se reformaram:  Não é admissível que o Governo há mais de três meses encha a boca com as "gorduras" do Estado e no concreto faça incidir 80% da brutal redução da despesa sobre os salários, as pensões e a saúde. 
Não quer dizer existam condições para uma revolução política. Como diz José Carlos Barradas, impera por agora a desorientação e angústia: Hoje em dia, na Grécia insolvente ou num Portugal recessivo abundam desorientação e angústia e a falta de tacto político, de mero bom senso, que exaspera e confrange, em nada contribui para dissipar um justificado cepticismo quanto ao futuro.

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