quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

A BIOGRAFIA DE UM CRÁPULA

Não fosse o crime perpetrado no Brasil sobre a pessoa de Rosalina Ribeiro e quase ninguém recordaria quem foi Lúcio Tomé Feteira, o milionário cuja herança tem merecido tantos comentários nos meios audiovisuais.
E, no entanto, ele bem merece esta notoriedade, agora reforçada pela publicação da biografia de Miguel Carvalho intitulada «Lúcio Tomé Feteira - A História Desconhecida». Porque raramente fica tão evidenciada a essência crapulosa de quem vive da fraudulenta exploração dos outros, sejam eles familiares, sejam aqueles que para ele trabalharam.
Do comportamento de Lúcio a respeito dos familiares fica bem exposta a relação com o sogro, cujo empréstimo inicial lhe garantiu a verba necessária para lançar a Covina - eixo essencial do seu enriquecimento - mas logo ludibriado no cheque para tal emitido, que deveria ser de três mil contos, mas cuja «mão habilidosa» do genro transformou em treze mil contos.
Que o agradecimento desse favor tenha sido a posterior campanha de calúnias contra ele alimentada pelo mesmo genro ao longo do resto da sua vida, diz bem da personalidade do salazarista convicto que, temendo os efeitos de uma reviravolta histórica, não deixou de se fazer fotografar nos meios da oposição, como se a ela pertencesse.
Mas se a trapacice e o oportunismo de Lúcio estão bem demonstrados nesses gestos, a relação com os operários das suas fábricas não desdiz, antes confirmam, esses traços de falta de carácter. Os ordenados eram miseráveis, mas ele distribuía, amiúde, esmolas pelas respectivas famílias, andando por isso com os bolsos recheados de moedas. Tratava-se da lógica assistencialista, que este actual Governo tanto defende, em vez de assegurar direitos legítimos a uma remuneração digna.
E resgatando privilégios feudais, Lúcio não tinha escrúpulos em deitar-se com quantas mulheres, casadas ou solteiras, empregadas ou meras familiares dos seus empregados, que lhe estimulassem a libidinosidade.
Milionário por muito explorar e defraudar, Lúcio Tomé Feteira constituiu o paradigma de uma classe surgida à pala do salazarismo, aparentando cumprir-lhe as supostas virtudes públicas, mas muito ciosa dos seus privados vícios.

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