terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Nos jornais de hoje saliento dois artigos merecedores de alguma atenção.
No «Público» a norte-americana Naomi Wolf evoca os movimentos de contestação, que vão ocupando ruas e praças de diversas latitudes, como contraponto ao poder mostrado pelo capital especulativo para semear o caos no seio da autoridade de governos democraticamente eleitos.
Embora obedeça a uma lógica própria de quem se isenta de qualquer escrúpulo, torna-se paradoxal a cada vez maior sintonia de interesses entre os lideres do poder capitalista com sociedades fechadas como a da China, conhecidas pelas limitações ao exercício da actividade de sindicatos, de entidades defensoras dos direitos humanos ou da liberdade de imprensa. Basta constatar o clima de enamoramento de muitos dos nossos colunistas conotados politicamente à direita com os novos donos da EDP para constatar como o suposto papão comunista foi atirado para o caixote do lixo da História em nome dos superiores interesses da ordem capitalista neoliberal.
Mas esta conjugação de interesses tem ainda outra vertente não menos inquietante: de Londres a Telavive, passando por Washington, as supostas democracias avançadas vão emitindo legislação repressiva destinada a combater a dissidência. Quem ouviu o recente discurso de um dos principais responsáveis pela PSP e a forma como surgiram provocadores infiltrados na manifestação dos indignados em frente à Assembleia da República, percebeu o tipo de estratégia que se está a desenvolver por parte de uma direita apostada em não deixar descurar a oportunidade histórica facultada pela presente crise para se tentar perpetuar no poder e assim defender com maior eficácia os interesses de quem representa. Aqueles que, por exemplo, transferem para a Holanda os seus capitais de forma a eximirem-se ao pagamento dos impostos que lhes deveriam caber...
Mas Naomi Wolf considera que a aparente força de quem agora parece comandar os destinos das nações, pode esconder uma tremenda fragilidade, que não resistirá à utilização exaustiva dos meios de comunicação não oficiais, através dos quais se consigam concentrações populares mais dinâmicas e coordenadas.
O recurso à Internet  permitirá contrariar os interesses do capital global e com os governos que se habituaram a actuar sem a supervisão dos cidadãos. E trata-se de um conflito com obrigatório desenvolvimento no corrente ano!
Pensando, igualmente, a situação presente à luz dos mesmos reflexos mediáticos, Mário Soares intitula o seu texto do «Diário de Notícias» de «O Tempo e a Memória», chamando a atenção para um ensaio do holandês Rob Riemen, intitulado "O Eterno Regresso do Fascismo".
Nesse livro ele considera que, sessenta e seis anos após o fim da II Grande Mundial, o fascismo constitui uma calamidade que pode voltar a contaminar a Europa, por via de eleições democráticas.
Tal como na época de ascensão dos totalitarismos, «estamos, na realidade, de novo, a viver uma crise, para além de financeira e económica, de civilização. Sem ideais que nos inspirem» (…) cria-se «nas camadas populares um sentimento de mal-estar, de frustração e de ressentimento, em que os valores democráticos da cidadania se perdem e os líderes políticos, cada vez mais desacreditados, procuram dirigir-nos, apostando no neoliberalismo e, consequentemente, no nacionalismo e no populismo».
O que se está a verificar actualmente na direita europeia nada tem a ver com os valores outrora professados pelo ideário democrata-cristão, que era o seu. Os dirigentes dessa maioritária área política estão completamente enfeudados à cupidez dos mercados especulativos e à sobre-exploração de quem trabalha.
E, tal como no artigo de Naomi Wolf, Mário Soares também está longe de se resignar à ideia de que «as coisas continuarão a ser como são». Pelo contrário, «por mais graves que sejam os tempos que se avizinham não devemos perder a esperança. Foi sempre alimentando a esperança num mundo melhor que as sociedades - e as pessoas - foram capazes de progredir. Lutando pelos grandes ideais, da paz, da liberdade, da solidariedade, da justiça social e dos Direitos Humanos. É por isso que em momentos de crise não podemos - nem devemos - prescindir das conquistas sociais.»

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