sábado, 18 de fevereiro de 2012

Filme: DE GARIBALDI À BERLUSCONI DE ENRICO CERASUELO (2011) - cont.

Acabada a Segunda Guerra Mundial a Itália está devastada, mas respira um entusiasmante clima de liberdade, com um referendo a enterrar de vez a Monarquia, substituindo-a pela República.
Entre as instituições em escombros ,devido aos bombardeamentos, conta-se o La Scala, mas a grande arte do pós-guerra não se focaliza na música, mas no cinema, aonde o neo-realismo será referência mundial com filmes como «O Ladrão de Bicicletas» de De Sica.
Ao contrário de Mussolini, que tinha uma imponente presença física, os políticos do pós-guerra (De Gaspieri, Togliatti, Amalfa, Almirante) serão presenças sóbrias, dando corpo a ideias, mais do que impondo-as pela sua expressão gestual.
As mulheres ganham direitos de cidadania, podendo ser eleitas deputadas, como sucede com vinte e uma delas na primeira legislatura em liberdade.
Mas a violência já cresce à medida das tensões da Guerra Fria: quando, em 1947, a esquerda ganha as eleições regionais da Sicília, a Máfia (doravante aliada prestimosa da Democracia Cristã em particular e da Direita em geral) reage com um massacre em que morrem sete pessoas. E, no ano seguinte, apesar de De Gasperi, à frente da Democracia Cristã, ganhar as legislativas, não evita o grande apoio eleitoral aos comunistas que contam, então, com mais militantes do que o próprio Partido Comunista da União Soviética.
Os anos seguintes são os do boom industrial no Norte, com Turim a tornar-se a capital do automóvel com a Fiat. Dez milhões de italianos emigram do Sul para se proletarizarem nessas fábricas, apesar de serem objecto de discriminação racial, que chega a dificultar-lhes a possibilidade de arrendarem alojamento. Mas a identidade antropológica italiana vai-se fortalecendo na miscigenação decorrente. Outro factor de solidificação dessa identidade é a televisão e o consumismo à americana, apoiado no Plano Marshall.
Quando a Itália unificada comemora os cem anos de existência, em 1961, ela já ascendera à condição de quinta nação mais industrializada a nível mundial. Mas a Igreja continuava a deter um poder enorme, sufocando as aspirações laicizantes dos seus intelectuais.
Ainda assim, a Igreja sofre uma enorme derrota em 1974, quando um referendo aprova a legalização do divórcio.
Mas, nesse mesmo ano a extrema-direita inicia em Brescia uma campanha de atentados terroristas que, somados aos das Brigadas Vermelhas, mantém a Itália a ferro e fogo durante uma quinzena de anos.
Essa absurda violência terrorista, que impulsiona o desejo de segurança, e as televisões privadas apostadas na alienação mentecapta dos seus espectadores diminui as pulsões militantes ainda existentes e começa a emergir a influência de Silvio Berlusconi, então apoiante entusiasmado de Bettino Craxi, o dirigente socialista que sonha interpor-se na rivalidade histórica entre democratas cristãos e comunistas
A classe política muda, sobretudo quando os partidos tradicionais desaparecem devido à investigação aos seus financiamentos irregulares. É perante essa fragilização do Estado, que a Máfia não hesita em assassinar dois dos principais juízes anti-corrupção: Falconi e Borcellini.
De Palermo a Milão tudo muda e a etapa seguinte é a da Segunda República, que comporta fenómenos inquietantes como o separatismo populista da Liga do Norte e as sucessivas eleições de Berlusconi para primeiro-ministro, apesar das suspeitas tantas vezes confirmadas quanto às suas ligações à Máfia, à forma como acumulou tão apreciável  fortuna ou à sua turbulenta vida privada.
Cento e cinquenta anos sobre a sua unificação a Itália ainda mantém irresolúveis muitos dos seus problemas identitários e suporta a influência da Igreja Católica, que insiste no retrocesso civilizacional, que nunca deixou de querer impor...

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