terça-feira, 26 de junho de 2012

Um ano de darwinismo social


Cumpriu-se agora um ano de governação de direita. Mas os seus efeitos têm sido tão gravosos, que já parece ter sido há uma eternidade, que José Sócrates teve o seu memorável discurso de despedida (um dia destes iremos ouvi-lo de novo por constituir documento histórico de superlativo valor!) abrindo as portas ao mais violento ataque desferido desde o 25 de Abril de 1974 contra as classes, que dele tinham reclamado vitória. Indiferente aos custos em miséria, desespero e suicídios para que tem conduzido o país, Passos Coelho ainda se arroga do orgulho por ter trilhado caminhos, que o deixarão muito mal no futuro julgamento da História. Porque levará muitos anos a recuperar os danos causados pela sua forma de entender a governação do país.
No «Expresso» João Lemos Esteves aventa a possibilidade de se tratar da cegueira com que ele encara a realidade: Passos Coelho vive noutro mundo! Noutra galáxia: parece que ficou perdido, a cirandar, na galáxia de Ângela Merkel, de Sarkozy, dos tecnocratas mais radicais do FMI...mas não vive em Portugal! Pelo menos, não vive no nosso Portugal: quanto muito viverá no Portugal facilitado de José Luís Arnaut, de Miguel Relvas (que é ministro, empresário, relações públicas, ameaçador profissional de jornalistas, tudo!), de António Mexia. Mas essa perspetiva não será de todo em todo correta: Passos Coelho enfeudou-se de forma tão fundamentalista nas pretensas soluções neoliberais, que recusa-se a perceber o quanto elas nos arrastam na direção do iceberg  responsável por tão terrível naufrágio.
No «Jornal de Negócios», Leonel Moura descrevia essa visão ideológica como inerente a uma teoria sociológica há muito concebida, mas profundamente errada nos seus pressupostos:
O darwinismo social surgiu em finais do século 19 aplicando algumas ideias de Darwin à sociedade humana.
Darwin não teve culpa, nem voz na matéria. Mas a sua teoria da seleção natural que favorece os mais aptos e mais fortes, eliminando os inadaptados e fracos, serviu bastante bem aos defensores daquilo a que agora chamamos neoliberalismo e, no extremo, conduziu, entre outras coisas, ao fascismo, às raças superiores e ao extermínio dos judeus, ciganos e outros grupos considerados decadentes pelos nazis.
É lamentável que estas ideias estejam a encontrar adeptos em número crescente na Europa de hoje, com grupúsculos nazis a ganharem legitimidade eleitoral, em nome de princípios democráticos, que espezinham, e de uma suposta novidade irreverente em relação ao presente estado das coisas:
O darwinismo social conseguiu generalizar a ideia de que só se cria qualquer coisa de novo e inovador, ou se tem sucesso na vida, por meio de um comportamento ferozmente competitivo.
Esquece outras componentes fundamentais da criatividade, desde logo a cooperação, a combinação ou a sinergia, sobrevalorizando a disputa brutal e selvagem, aliás, a mesma que impera hoje nos mercados financeiros com o resultado que se conhece.
É por isso que importa recuperar os conceitos de Igualdade, Justiça e Liberdade, marcas identitárias da aposta numa sociedade mais humana...

Sem comentários:

Enviar um comentário