sexta-feira, 27 de julho de 2012


Depois de duas semanas de ausência o «Ventos Semeados» regressa com maior vitalidade e na expetativa de contribuir para estimular a capacidade de indignação de quem o lê para com as políticas seguidas pelo atual Governo de marionetas comandado pela odiosa troika.
Essa vitalidade resulta do efeito regenerador do descanso, da descoberta de outras gentes e outros locais. Que é fundamentalmente uma necessidade e não um luxo como o entende o discurso político preponderante.
Um direito que os mais recentes indicadores do Instituto do Planeamento e Desenvolvimento do Turismo (IPDT) reconhece estar vedado à maioria dos cidadãos: ali se reconhece que mais de metade dos portugueses não vai gozar férias este Verão. E da minoria que vai fazer férias, metade ficará em casa.
Ou seja, só um quarto dos portugueses é que vai realmente de férias. Comparado com 2011, são menos 22% a passar férias fora de casa. E menos 33% do que em 2010.
Tais números levam Daniel Oliveira a escrever no «Expresso», que estamos a viver um evidente recuo civilizacional: Esse recuo mede-se na vida das pessoas.
Na impossibilidade de terem filhos e saberem que lhes podem garantir o mínimo de conforto.
Na incerteza de que haverá um Serviço Nacional de Saúde que garanta apoio médico a todos.
Na lenta destruição de uma Escola Pública que garanta que os filhos dos mais pobres não estão condenados a herdar a condição social dos pais.
Numa precariedade que impossibilita o mínimo de planeamento de vida e que torna certa a inexistência de uma reforma que garanta dignidade na velhice.
E no regresso da ideia de que as pessoas não são mais do que máquinas de produção, peças de um mercado-de-trabalho, e que o descanso, os fins-de-semana e as férias são coisas de privilegiados.
Esta perspetiva sombria encontra eco ainda mais pessimista noutros comentadores avisados. No «Diário de Notícias» escrevem dois deles: Baptista Bastos e Viriato Soromenho Marques.
O primeiro culpabiliza diretamente quem votou em Passos Coelho para primeiro-ministro: presumíamos que, com a democracia, a sociedade melhoraria na forma e no conteúdo. O «homem novo» foi um embuste político, cultural e moral. Tudo piorou, até se chegar à degradação atual. Passos Coelho e o seu Governo são uma consequência direta, não um incidente à espera de acontecer. Fomos nós quem o permitiu. O voto comporta estas surpresas e estas contradições. Mas é o que há.
O segundo não abre espaço para nenhuma esperança para o euro: reina o silêncio dos cobardes na maioria das capitais europeias. O de Lisboa é inqualificável. (…) Por este caminho, este será o último verão da Zona Euro. O último verão antes de uma nova, perigosa e incerta geografia política europeia, cujas dores de parto não pouparão ninguém.
Enquanto aguardamos por formas ainda mais terríveis de pauperização da maioria dos portugueses, sujeitos a desigualdades cada vez mais gritantes em relação aos mais ricos, novas suspeitas de atividades pouco claras rodeiam o inquilino de Belém, quando é o Governo quem decide pelo respetivo genro para ficar com o Pavilhão Atlântico. Apesar da sua aparente má fama junto de numerosos e aflitos credores.
Mas até a legalidade mais inatacável suscita fenómenos indignos, como ocorre com Alexandre Soares dos Santos declarado pela revista «Exame» como o homem mais rico de Portugal.
E, no entanto, ele corresponde á quinta essência do intermediário, que tanta má fama tinha na época do 25 de Abril por constituir o tipo de negociante oportunista, que aperta o mais possível os produtores, os fornecedores e os seus empregados para conseguir as mais elevadas percentagens de lucro junto dos seus clientes.
Embora o retalho garanta muitos dos principais megamilionários a nível internacional, jamais deixará de constituir o paradigma do vale tudo para garantir dividendos maximizados, depois apresentados como resultantes de um qualquer mérito digno de encómios.
Outro exemplo de oportunismo, que age na sombra para dar o golpe na altura certa, é o assumido por Paulo Portas. Sem sujar propriamente as mãos nas decisões políticas mais polémicas do Governo, ele vai deixando, aqui e ali, as críticas aos próprios cúmplices, preparando o momento certo para lhes desfechar o golpe fatal, aquele em que fundamenta esperanças antigas de vir a chefiar os destinos do país.
É isso mesmo que fica implícito nas palavras de Pedro Silva Pereira no «Económico»: A epístola que o líder do CDS e ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros dirigiu esta semana aos militantes populares, por ocasião do 38º aniversário do partido, confirma a estratégia que Paulo Portas escolheu desde o início: estar no Governo com um pé dentro e um pé fora.
Já o disse e repito: a existirem eleições legislativas antecipadas, será o CDS a suscitar a queda do governo em que se coligou ao PSD.
E enfim, a terminar, neste dia cheio de sinais negativos, ainda nos chegaram imagens terríveis da Groenlândia, com os glaciares a quase se fundirem na totalidade em inquestionável  demonstração dos efeitos do aquecimento global.
Andamos tão preocupados com a política e a economia europeia, quando a maior ameaça parece vir do criminoso alheamento das maiores potências mundiais aos efeitos alarmantes da sua busca pelo crescimento dos respetivos PIB’s.

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