sábado, 4 de agosto de 2012

As Ilusões Perdidas pelos mais ingénuos


Tempo de férias para uma minoria privilegiada, já que este verão de 2012 revela-se muito agreste para quem não tem emprego ou o sente por um fio.
Estamos, pois, em época de muitas ilusões perdidas, a começar por quantos acreditaram ingenuamente em quanto Passos & Portas lhes prometera na campanha eleitoral com que desfeitearam a governação de José Sócrates e o que veem concretizado vai muito para além dos seus piores pesadelos.
Diz Baptista Bastos no «Jornal de Negócios»:  Em pouco mais de um ano, esta clique dirigente liquidou as nossas esperanças, destruição acaso mais profunda do que a substância das nossas fomes. Pode ser que não sejam julgados pela justiça que trata destes assuntos indignos, mas já foram condenados no tribunal das nossas consciências. E aí estão os jovens para os apontar à execração. Eles, certamente, não perdoarão o terem sido expulsos do futuro e da pátria; perseguidos pelo desemprego; extorquidos do que mais decente e asseado nos seus sonhos existe. 
De entre essas ilusões perdidas contam-se igualmente os comportamentos éticos de quem nos governa. Se José Sócrates fora tão criticado por quanto sobre ele inventaram ou acrescentaram, mormente nesse inqualificável pasquim chamado «Correio da Manhã», só se estranha como a indignação pela forma como o clientelismo vai provocando situações escandalosas como as verificadas com os familiares de Catroga ou com a indigitação de «boys» para a direção das organizações em que se segmenta o Serviço Nacional de Saúde e não emerge uma violenta vaga de indignação.
E Relvas? Como se pode tolerar a continuação de tal personagem enquanto governante de um país, que supostamente nada teria a ver com uma «república das bananas»? Mesmo que Manuel António Pina relativize o caso no «Jornal de Notícias» enquanto modelo de uma forma de comportamento do ensino privado: O "caso Relvas" é apenas expressão daquilo que poderíamos classificar de "caso português", o chico-espertismo. Este atingiu proporções inimagináveis com o negócio de diplomas em que se tornou algum ensino superior privado (uma escola já oferece mesmo "licenciaturas duplas" em quatro anos, ao bom estilo promocional do "pague uma e leve duas").
É aliás essa estratégia de reduzir o ensino público à sua mínima expressão e assegurar uma desigualdade cada vez mais gritante de oportunidades através do acesso ou não à educação nas instituições privadas que norteia as políticas definidas por Nuno Crato. Como muito bem comenta Nuno Serra no «Diário Económico»: de uma forma gradual, por vezes quase impercetível, o ministro Nuno Crato está a levar a cabo uma transformação profunda do sistema educativo. (…) O objetivo (…) desta transformação parece ser claro: criar condições que favoreçam a expansão da oferta educativa privada, cedendo-lhe progressivamente o espaço desocupado pela erosão, delapidação e desqualificação da rede pública de ensino. Pelo caminho, o ministro de um partido que ainda ousa designar-se como social-democrata, desfere um golpe violentíssimo naquela que é uma das funções primordiais dos sistemas educativos próprios de sociedades democráticas: garantir a todos igualdade de oportunidades, criando e favorecendo condições de ascensão económica e social a grupos mais desfavorecidos.
Quando se recordam as guerras movidas pelos sindicatos de professores contra o governo anterior, e que tanto contribuíram para aparentar o fim do ciclo político, também eles se tornaram vítimas impotentes de tudo quanto agora lhes cai em cima. Nesse aspeto quantos deles vivem, igualmente, a sensação dessas ilusões perdidas, dessa convicção quanto a terem sido estupidamente enganados?

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