sábado, 15 de setembro de 2012

Documentário: «Indignez-vous !» de Tony Gatlif



Em dia de indignação à solta  pelas ruas de Lisboa contra um governo, que se tem distinguido pela declaração de guerra contra as classes médias e desfavorecidas, vale a pena olhar para este excelente filme de Tony Gatlif.
Para os que se deixaram embalar pelo fraudulento «Inside the Job», que parecia combater as mesmas forças aqui denunciadas, mas só abria campo para o extremismo libertário de direita dos defensores do «tea party», fica aqui uma alternativa bem mais incisiva, porque não propõe destruir acefalamente bens ou instituições, mas criar um movimento de defesa da Declaração Universal dos  Direitos do Homem e levá-la até às suas mais legítimas consequências.
Ao vermos este documentário fica clarificado que Passos Coelho e os seus ministros não estão sozinhos enquanto marionetas de uma estratégia global, que se acentuou nos últimos anos  - desde a falência da Lehman Brothers em 2008 - sendo apenas os pretores locais de uma guerra alargada a todos os continentes. E que por isso deve ter, igualmente, uma resposta global.
Bem se esforçou José Sócrates por denunciar essas ameaças exteriores, que punham em causa todo o esforço - a nível de um reforço na educação dos portugueses através das Novas Oportunidades, através das energias renováveis, através da investigação científica, através da redução do número de pobres através do Rendimento Mínimo Garantido, etc.  - investido ao longo de seis anos para mudar a face do país.
Na altura os estrategas destas políticas de austeridade tinham de destruir o carácter do político  - e continuam a tentar fazê-lo através de processos judiciais, que nunca conseguem provar nada, ou das notícias desse lixo impresso chamado «Correio da Manhã» - e negavam a influência estrangeira no que se passava com a nossa economia. Mas já os mercados se atiçavam a derrubar os governos de esquerda, não só em Portugal, mas também na Grécia ou em Espanha, que pudessem obstar aos seus projetos.
É então que ganha particular dimensão esse notável Stéphane Hessel, que se filia na linhagem de um Gandhi, de um Luther King ou de um Mandela, no apelo à nossa indignação, transformando-a em ações pacíficas, mas determinadas, de repúdio pelo aviltamento dos oprimidos, contra essa guerra social.
E é incontestada a legitimidade deste nonagenário  em propor tal forma de contestação, porque age em consonância com a sua própria biografia de resistente ativo contra os nazis ou contra quem se opunha à independência das colónias.
O filme de Gatlif explica sem rebuços que o interesse coletivo terá sempre de se sobrepor ao dos particulares, começando pela redistribuição justa dos rendimentos resultantes do trabalho.
- Não somos contra o sistema! - diz uma das jovens indignadas perante a câmara - É o sistema que é contra nós!
Stéphane Hassel olha-nos nos olhos e debita todos os argumentos, já explanados no seu best-seller, e em que fundamenta a urgência em congregar multidões pelas grandes avenidas de todas as grandes cidades de forma a fazer  recuar a ameaça percetível no rosto destes governantes, mas que tem origem em gente ainda bem mais perigosa, escondida em conselhos de administração e em edifícios aonde, a cada momento, só se pensa na forma de transferir riqueza do bolso dos mais pobres para os dos que já têm quase tudo e se julgam no direito de ainda terem mais…
Até agora os movimentos de indignados ainda não conseguiram infletir o curso do rio, que a todos ameaça afogar. Mas as ruas vão-se enchendo cada vez de mais gente. Os que negam todos os seus antigos discursos de direita, já começam a falar como se, de um dia para o outro, tivessem aderido aos dos comunistas ou dos radicais de esquerda mais convictos.
Há algo a mudar nos dias, que correm. E se, na aparência, todos quantos se indignam parecem facilmente derrotáveis, a verdade é que estão a criar as condições para uma mudança civilizacional capaz de reconciliar a Humanidade com os seus melhores anseios de Utopia!

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