quarta-feira, 12 de setembro de 2012

FILME: «Os Gloriosos 39» de Stephen Poliakoff (2009)



É quase impossível maldizer um produto cinematográfico e televisivo dotado da chancela da BBC, sobretudo quando envolve a recriação dos ambientes de outros tempos, nomeadamente os da época da iminente declaração de guerra contra os nazis.
E, neste caso em concreto, o elenco é impressionante, conjugando gente prestigiada como Christopher Lee, Julie Christie, Jeremy Northam, Jenny Agutter, Bill Nighy ou Hugh Bonneville.
Com tais nomes no cartaz e com a garantia da qualidade das recriações históricas, diríamos estar perante uma forte probabilidade de um filme memorável.
Hélas! A montanha pariu um rato! «Os Gloriosos 39» não ultrapassa a mediania, que insatisfaz pela convicção de se terem desperdiçados recursos, quase por certo melhor explorados por gente mais ambiciosa.
Para o realizador o maior interesse está em contextualizar uma das mais conhecidas e tristes realidades de então: a cobardia de significativa parcela da aristocracia britânica, mais temerosa do bolchevismo do que dos propósitos expansionistas e genocidas dos nazis.
O que não era de admirar, porque existia um óbvio racismo social desse estrato pelas classes mais desfavorecidas. E matar cães, gatos ou cavalos no veterinário constituía, então, uma alternativa perfeitamente aceitável para quem os considerava um estorvo perante as novas circunstâncias em que vivem.
A história centraliza-se em Anna, uma atriz completamente alheada da política, que descobre por mero acaso umas gravações comprometedoras para quantos apreciam ou acedem a negociar uma rendição «honrosa» com Hitler. De súbito começa a ver acumularem-se mortos à sua volta: o jovem deputado, que assumia entusiástico apoio à determinação de Winston Churchill, o velho ator a quem ela empresta essas gravações e o próprio namorado apostado em desmascarar a conspiração pró-nazi.
O choque para Anne é ver que o comprometimento nessa conjura é liderado pelo próprio pai adotivo, tendo o irmão como seu lugar-tenente. O que a conduz a um  vigiado enclausuramento na verdadeira toca do lobo para que pretendia alertar. Mas de onde se conseguirá, obviamente, libertar.
Se as inverosimilhanças são frequentes num argumento, que constitui o elo mais fraco desta produção, existe uma vertente muito positiva e que resgata um pouco a apreciação do filme: a beleza da paisagem rural inglesa a que não falta o lado gótico de umas ruínas bem ilustrativas do estado decadente da (outrora) classe dominante britânica. Mas, que desejaria ter encontrado mais substância, lá isso é inegável...

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