segunda-feira, 10 de setembro de 2012

POLÍTICA: difícil uma sociedade aguentar tanto!


Um texto ontem inserido no «Público» demonstra mais um salto qualitativo muito importante do desfasamento do governo de Passos Coelho com a opinião pública.
No editorial - intitulado «O Governo e o limite da tolerância» - lembra-se uma citação de Miguel Torga que, em 1961, em plena consolidação do salazarismo depois do sobressalto resultante da eleição presidencial a que Delgado concorreu, concluía que somos, socialmente, uma coletividade pacífica de revoltados.
A referência parece fazer sentido, quando nos indignamos com a reação abúlica dos portugueses às sucessivas malfeitorias do governo.  Que poderá alterar-se proximamente no dizer do articulista: é bom começar a discutir se, após o anúncio do primeiro-ministro de sexta-feira, os portugueses vão conservar a sua revolta na esfera da legitimidade ou se a descrença e, em muitos casos, o desespero os incitam a expô-la na esfera social.
Embora no seu comentário semanal, Marcelo Rebelo de Sousa afaste tal possibilidade o referido editorial questiona-se se não estamos no risco do fim do razoável consenso social em torno da austeridade. Ou, por outras palavras, a ténue linha que separa a paciência e a resignação aos sacrifícios da conflitualidade pode ter ficado irremediavelmente comprometida.
O que Passos Coelho anunciou - e que até gente assumidamente de direita como Bagão Félix condena - é o convite para a aliança política e social do centro com a esquerda mais radical. Porque nunca abdicando da implementação da sua agenda ideológica, o Governo decidiu prosseguir a sua agressão aos assalariados, poupando os suspeitos do costume (bancos, acionistas de empresas colocadas na Bolsa e o patronato em geral):   a descida da TSU vai beneficiar as grandes empresas e pouco efeito terá nas PME, não trará efeitos imediatos no emprego, afunda ainda mais a procura interna, nada contribui para o cumprimento do défice em 2012 nem tapa o gigantesco buraco de mais de 3000 milhões de euros que se adivinha para o próximo ano.
O editorial em causa - de um jornal pertencente a um dos grupos supostamente mais beneficiados com a referida redução da TSU - reconhece ser difícil a uma sociedade aguentar tanto.

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