quarta-feira, 24 de outubro de 2012

POLÍTICA: Estratégias opostas no combate à droga


Na rubrica “Toda a Verdade” da SIC Noticias passou um documentário, dividido em duas partes, sobre a forma de contrariar o flagelo da droga nos EUA, no México, na Colômbia, na Bolívia e no Equador.
É fácil constatar que, na nossa imprensa, Evo Morales  e Rafael Correa compartilham com Hugo Chavez a má fama de serem populistas e pouco democráticos. O que, paradoxalmente, não ocorre quando são políticos de direita, quem assumem a condução governativa de países da região com métodos tão ou mais demagógicos e pouco democráticos do que aqueles. A lógica de McNamara em como os nossos filhos da mãe são ótimos e os do lado contrário odiosos ainda permanece como regra nos nossos telejornais e publicações escritas..
Mas o documentário em causa demonstra bem a virtualidade dos resultados políticos conseguidos pelos regimes situados ideologicamente à esquerda ao optarem por uma abordagem humanista para o problema das drogas, eximindo-se à estúpida repressão levada a efeito pelos EUA desde Nixon e pelos seus aliados latino-americanos.
A realidade é incontornável:  aonde, como ocorreu com Felipe Calderon no México, se apostou na própria mobilização do Exército na repressão, a violência cresceu de forma exponencial. Ao contrário, aonde se tentou a reinserção dos pequenos traficantes e dos correios de droga numa luta dirigida contra a pobreza endémica dos bairros donde eram oriundos, os resultados começam-se a ver.
Esse exemplo conhece um paralelo com o sucesso conseguido em Portugal durante os governos de José Sócrates, quando se despenalizou o consumo e se apostou na focalização dos esforços repressores sobre os circuitos de distribuição. Um modelo de solução do problema, que é reconhecido como um sucesso por uma Europa, que aposta na sua réplica mais alargada.
O que o documentário resgata é a velha tese dos sociólogos, que explicam a delinquência como consequência da gritante desigualdade na distribuição das riquezas de cada país.
Enquanto franjas significativas da população não encontrarem outra forma, senão a da delinquência, para se libertarem do ciclo de pobreza em que as suas famílias estão enredadas, de pouco vale aos governos apostarem em mais polícias, em comprometerem os exércitos na segurança civil ou na construção de sempre maiores prisões para encarcerarem o problema.
O que os diversos tráficos revelam são sociedades disfuncionais devido às teses ideológicas de uma direita, que acredita nas desigualdades e na liberdade dos mercados para conseguirem acumular mais riqueza. O reverso da medalha é tenebroso e tanto se manifesta nas covas abertas à espera da vintena de jovens sumariamente fuzilados diariamente nas ruas de Ciudad Juarez como nas ruas sinistramente vazias de Baltimore aonde já só os suicidas arriscam um passeio…

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