quarta-feira, 10 de outubro de 2012

POLÍTICA: há outros caminhos, outras alternativas...


Hoje já poucos duvidarão da caracterização da agenda política do Governo tal qual a descreve José Cardoso Rosas no «Económico»: a subalternização da democracia, a ideia de que nunca há alternativa, a precarização dos vínculos laborais, a redução dos apoios sociais e da sua universalidade, os cortes cegos na despesa, as privatizações a todo o custo, a ausência de política económica, etc.
Confesso que julgaria inevitável aguentarmos com tal agenda até ao último trimestre de 2013, quando o desgaste progressivo dos partidos da direita os condenaria a uma derrota eleitoral nas autárquicas, causadora de dura mossa no PSD, aonde o terreno municipal constitui maior alfobre de prebendas à sua principal base de apoio. Previa que seria esse o momento culminante em que Portas faria jus à sua condição de escorpião e picaria de morte o sapo em que vai montado.
As coisas afinal ganham um ritmo muito mais acelerado do que o previsto: os escandalosos aumentos fiscais decorrentes do completo fracasso da aplicação dessa agenda, o imparável crescimento do desemprego e a impossibilidade de acenar aos portugueses com uma luzinha, mesmo que trémula, ao fundo do túnel, abreviará a existência deste Governo de alguns meses. A tampa do caixote do lixo da História já está a abrir para o receber como coisa apodrecida, nauseabunda.
Lamenta-se, porém, Baptista Bastos no «Diário de Notícias» quanto à herança que ele irá deixar: Os princípios fundadores do 25 de Abril estão desfeitos. A própria noção de laços sociais foi sobrepujada pela força das classes dominantes. A dissimulação, a meia-verdade, a mentira sistemática, a hipocrisia como método  (…) caracterizam esta "nova" ordem. 
Mas essa «nova » ordem tende a desaparecer, varrida pelo advento de novas alternativas à esquerda para as quais se deverão congregar os esforços de socialistas, comunistas, bloquistas e de todo um conjunto de cidadãos independentes apostados em dar ao país a oportunidade de uma tão necessária regeneração. Diz Mário Soares com a sábia pertinência de quem já muito viu: O medo mudou de campo, quando os responsáveis políticos de hoje manifestam medo do Povo e fogem dele, sem vergonha!
Só é pena que  o PS tenha agora a liderá-lo um secretário-geral com manifesta inaptidão para corresponder à urgência das circunstâncias. A sua proposta de redução de deputados tem merecido palmas de quem possui da política a visão primária e criptofascista de que se possam justificar as críticas a todos os políticos como se fossem todos iguais e, por isso, redutíveis à sua mínima expressão, quando o que se exige é maior qualidade, responsabilidade e seriedade em quem elegemos para essas funções. No «Expresso», Daniel Oliveira não poupa nas palavras para qualificar a inacreditável proposta de Seguro: na sua estratégia, Seguro exibiu cinco pecados políticosoportunismo, irresponsabilidade, sectarismo, pequenez e desespero
Oportunismo, porque tenta somar vantagens de uma crise de credibilidade da democracia. 
Irresponsabilidade, porque alimenta e se alimenta, no momento mais perigoso, do sentimento antiparlamentar e antipartidos. 
Sectarismo, porque aposta em alargar o fosso que divide os partidos à esquerda, tornando-se objetivamente num aliado das correntes mais sectárias desses partidos. 
Pequenez, porque, à falta de uma alternativa a este governo, aposta em pequeninos truques para lhe criar dificuldades à coligação governamental, continuando a ignorar o que é realmente relevante. 
Desespero, porque, perante concorrentes internos, só consegue socorrer-se do apelo à compreensível desconfiança das pessoas perante as instituições democráticas para parecer que lhes propõe alguma coisa.
Se não fosse preciso mais, ficou provado que Seguro não tem estatura para liderar uma alternativa a Passos Coelho. Cada vez mais socialistas o percebem. E não duvido que, feito este número, já se terá apercebido que abriu uma caixa de Pandora demasiado perigosa. Que, dentro do próprio PS, o terá desacreditado um pouco mais.
Dentro do Partido Socialista já há quem coloque as questões mais relevantes da situação presente e conclua pelo único caminho passível de trazer uma forma de solução. Senão, concluamos com o que escreve Pedro Nuno Santos no «i»:
A reestruturação vai acontecer mais cedo ou mais tarde. Será que é difícil perceber que quanto mais tarde pior? Que os nossos credores só nos vão propor a reestruturação quando a nossa economia já estiver destruída, como fizeram com a Grécia? Tem de ser Portugal a tomar a iniciativa. E quanto mais cedo, mais economia se poupará à destruição. Exige-se responsabilidade e determinação na defesa do país.

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