sábado, 24 de novembro de 2012

POLÍTICA: Atrás de tempos, tempos vêm


Na edição do «Negócios» de hoje, o Fernando Sobral publica alguns textos, que merecem referência não só pela erudição que sempre é seu apanágio, mas sobretudo pela pertinência do que neles se diz.
Comecemos, então, por esta Europa tão pouco comunitário, que acena pavlovianamente euros aos gregos sem os chegar a largar da mão, mesmo depois de os ter humilhado das formas mais inimagináveis que, do ponto de vista ético, deveria presidir às relações entre estados. Para o jornalista em causa a asfixia financeira da Grécia simboliza a cicuta que toda a Europa está a tomar e que destruirá todo o projeto europeu a prazo.
Não é só a nível financeiro, que a Europa está a precipitar-se para o abismo em nome da supostamente virtuosa sobriedade dos seus nordestinos protestantes: A Europa, na sua ânsia de que os culpados expiem cruelmente os seus devaneios, está a tornar-se moralmente insolvente.
Pelo contrário, os pecaminosos sulistas, a que se juntaram agora os cipriotas, já começam a fazer a pergunta vital: vale mais perecer num clube de falsos amigos que estão à espera de espetar-nos uma faca nas costas, ou sozinhos mas orgulhosos?
Mas não é só sobre a Europa no seu todo que Fernando Sobral disserta: a Espanha também merece a sua análise a propósito das eleições catalãs deste fim-de-semana. E conclui: o PSOE vive a crise da social-democracia europeia, continua a discutir o curto prazo e é incapaz de ver as mutações sociais que se sucederam. Como pano de fundo, a classe média empobrece e a social-democracia perde a sua base de apoio. A democracia está nos cuidados intensivos. E não tem dinheiro para pagar a sua recuperação.
Quando ainda começava a conceber  a Revolução, que o levaria anos depois à proclamação da República Popular da China, Mao Zedong operou uma análise fundamental sobre as características das diversas classes que integravam a população do seu país, perspetivando quais as que poderiam ser suas aliadas e suas inimigas. Foi assim que lançou as bases para a conquista do Poder.
Independentemente de, depois, o resultado ter sido muito diferente dos amanhãs que cantam então prometidos, a receita mantém-se atual para quem não se conforma com os changkaicheks de hoje que limitam as liberdades democráticas por parte do cada vez mais autista capital financeiro e seus aliados.
Para contrariar a dinâmica neoliberal que nos está a acossar não bastarão alternativas reformistas. Não se recauchuta o que se herda podre e irrecuperável, que será o estado em que o país se encontrará quando os passos e os gaspares forem excomungados.
No panelão de lutas sociais em que a sociedade europeia está encerrada, o fecho sucessivo das válvulas de segurança tem conduzido a uma tal sobrepressão, que não surgirá rolha suficientemente forte para a aliviar de mansinho.
É a ciência que no-lo demonstra: uma ação suscita sempre uma reação. E ela é quase sempre mais forte do que aquela que contraria...

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