quarta-feira, 14 de novembro de 2012

POLÍTICA: Hoje tenho um sonho!


Parafraseando Luther King: hoje eu tenho um sonho. O de que a greve geral seja imensa e que os trabalhadores dos vinte países europeus aonde ela ocorre mostrem  quão perigosos podem ser. Perigosos no sentido em que Nuno Ramos de Almeida escreveu ontem no «i»:
Os sonhos são matéria mais poderosa que nos querem fazer crer, como escreveu T. E. Lawrence: todos os homens sonham, mas não da mesma forma. Aqueles que sonham durante a noite no descanso dos seus pensamentos acordam pensando que tudo não passou de uma fantasia, mas os sonhadores de dia são homens perigosos porque podem agir no sonho, de olhos bem abertos, para os tornar possíveis. Sejamos então amanhã perigosos e recusemos o pesadelo que nos querem impor.
É fácil concluir que mantém toda a pertinência a tese, que há muito alimento a contracorrente do pensamento politicamente correto dominante: a de que a queda do Muro de Berlim significou um dos momentos mais negros na história recente das classes populares europeias. Por três razões:
1. porque ficou definitivamente desmistificada a ideia de ainda subsistir algo do projeto utópico, que estivera na origem dessas repúblicas supostamente comunistas.
2. porque julgando aceder aos paraísos capitalistas com que se iludiam, muitos dos povos do leste europeu e da Ásia Central pioraram significativamente na sua qualidade de vida e quase nada ganharam na democraticidade dos seus novos regimes políticos (da Hungria à Rússia, do Azerbaijão ao Turquemenistão);
3. porque a contenção das elites económicas, financeiras e políticas ocidentais quanto á aplicação de regras de funcionamento do mercado do trabalho e da distribuição da riqueza produzida, desapareceu e passou a valer tudo na estratégia de criação de uma sociedade com cada vez menos ricos e muito maior número de excessivamente pobres.
É por isso mesmo, que será bom que essas elites comecem a recuperar o medo contraído pela aristocracia europeia, quando viram os seus pares franceses a ficarem sem pescoço nas guilhotinas parisienses.
O que significa ver os gregos a serem mais eficazes nos combates de rua com a polícia infiltrada pelos nazis da Aurora Dourada.  Formular votos para que os sitiadores do parlamento espanhol consigam ser mais numerosos e bem sucedidos na expressão da sua indignação. E que por cá se vão perdendo os brandos costumes até porque o ministro Miguel Macedo anunciou já ter tratado de garantir aos polícias cá do burgo um estímulo de mais de 10% nas remunerações para que se mostrem mais assertivos na distribuição de cacetadas e de disparos de balas de borracha. Porque a luta de classes irá agudizar-se inevitavelmente nos próximos meses!
É que o desastre económico para que este Governo nos empurra não dá mostras de conhecer qualquer inflexão: nos ministérios o valor é comentado quase em surdina, mas o Diário Económico sabe que alguns documentos internos apontam para um défice que poderá ter chegado perto dos 9% do PIB. Quando o desvio colossal do Gaspar era de 4,5% para este ano, e já conseguira a complacência da troika para descambar até aos 5%.
Como conclui Nicolau Santos no «Expresso»: Bem podem Merkel, Junker e Passos vir dizer-nos que o barco é lindo e tem uma magnífica pintura. Pois tem. O problema é que, quando se coloca na água, não flutua. E barcos lindos que não flutuam não servem para nada. 

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