domingo, 9 de dezembro de 2012

Teatro: «À Saída» de Luigi Pirandello


Esta peça num ato foi representada pela primeira vez em 1916. Trata-se de um dialogo entre palavras, insólito e absoluto.
À porta de um cemitério encontram-se duas sombras: o Filósofo e o Gordo, que se espantam por terem conservado as aparências de quando ainda viviam.
O Filósofo explica que tudo na vida é ilusão e que as aparências dos corpos subsistem enquanto  não desaparecerem deles os últimos desejos, que os ligavam à vida.
O Gordo evoca os seus hábitos quotidianos: o jardim de sua casa,  os peixes, o lago, e lamenta agora não ter vivido tanto quanto teria sido possível, de não ter usufruído tanto quanto estivera ao seu alcance. Mas o único verdadeiro desejo dele é que a mulher, assassinada pelo amante, venha juntar-se-lhe. E ei-la de facto, no seu vestido vermelho e com um riso de que nunca se livra.
Aparece então uma criança com uma romã na mão, que interrompe o trágico relato da mulher , que o acaricia ternamente e o ajuda a comer o fruto.
De súbito a criança desaparece: o seu derradeiro desejo era precisamente comer essa romã.
Vive-se, pois, dos seus desejos: eis porque também, pacificado, o Gordo também desaparece. Sozinha, a contas com o seu insatisfeito desejo de maternidade, a Mulher encaminha-se para o incontornável inferno.  Mas quem não pode fugir é o Filósofo, que se mantém por ali a refletir.
O diálogo, simples e tenso, procura o despojamento absoluto. Sucedem-se os símbolos, com a diluição da arrogância, quando a Mulher confessa o desespero de não se conseguir livrar do Nada.
Estes fantasmas, encenados por Pirandello, possuem de comum as recordações. Ainda não são almas etéreas e, portanto, exprimem esperanças obstinadas, reivindicações dos seus sentidos, que também pretendem aceder à imortalidade: em suma ainda não abandonaram o heroico reino da dor.

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