domingo, 27 de janeiro de 2013

POLÍTICA: pressa, muita pressa...


Faria bem a umas quantas pessoas com responsabilidades políticas no maior partido da oposição volverem à Dialética de Hegel para não se sentirem tão assustadas com a vaga de fundo, que começa a contestar a atual direção. Da tese e da sua antítese, nasce invariavelmente uma síntese bastante mais forte e vencedora.
Por muito que António José Seguro persista em fazer o estafado número do «isto prova que o PS tinha razão» a verdade é que o seu discurso não cola, mostrando-se incapaz de gerar a definitiva rejeição do eleitorado pelas malfeitorias de passos e companhia. Nesse sentido a atual direção do PS tem sido o melhor abono de família com que a coligação de direita tem contado para manter-se, mesmo que periclitante, nas rédeas do poder.
Bastou ver a pungente participação do secretário-geral no «Opinião Pública» da Sic Notícias para constatar que os portugueses gostariam que ele se esclarecesse em relação ao legado deixado pelo Governo de José Sócrates. Mas, por natureza tíbio, Seguro preferiu mudar sempre se assunto, como se lhe escaldasse nas mãos.
Enquanto socialista continuo confiante, a exemplo de muitos outros portugueses, em como a História virá a fazer justiça ao legado do Governo de Sócrates, sobretudo na primeira das suas legislaturas. Quanta a saudade de um país, que apostava nas energias renováveis, na investigação científica, no inglês e nos computadores (os Magalhães, que até servem agora para a polícia inglesa e eram parodiados pela direita estúpida, que já então predominava!) para todos os níveis escolares, na qualificação das escolas públicas, na criação de novos hospitais, no lançamento de grandes obras públicas geradoras de empregos a montante e a jusante de todas elas, etc, etc, muitos etc.
Sócrates foi derrubado pela conjunção de dois fatores essenciais: a crise o subprime, que retirou fluxos monetários aos mercados financeiros de um dia para o outro, e o papel de idiotas úteis de uma extrema-esquerda bloquista e comunista em favor de uma direita em quem viam, enquanto alternativa, o cumprimento da lógica do quanto pior melhor.
O que se seguiu foi a tomada de assalto do partido por uma direção em completa dissonância com o que a esquerda ocidental tende a ser, se se cumprirem as expectativas dos seus mais argutos líderes. Que tenderão a dar mais importância à voz dos eleitores do que à dos seus cada vez mais míopes militantes.
Ora se os eleitores rejeitam os discursos mentirosos de quem lhes promete alhos e lhes dá bugalhos - e em termos de Pinóquio o nariz de passos coelho ganhou uma hiperdimensão comparada com a de Sócrates, apesar dos enxovalhos a que este se prestava nas manifestações da tal coligação bloquista-comunista! - não aceitam a rejeição do sonho tal qual lhes promete Seguro. Um líder que pretende ganhar votos a dizer, que só prometerá o quanto se souber capaz de concretizar, diminui-se logo à partida e dá provas de frouxidão, porque no âmago de qualquer eleitor existe sempre a expectativa de que o façam sonhar.
Ora se um líder, além de não se revelar suficientemente visionário para pressentir as dinâmicas do curto e do médio prazo e as não souber canalizar em função dos interesses do seu povo, não merece ser eleito.
Por muito que tenha visto muitas das suas promessas frustradas, Sócrates tinha esse carácter, quando se dizia apostado em puxar pelas energias mais positivas dos portugueses, motivando-os para se excederem e queimarem as etapas que os aproximassem dos mais avançados povos europeus.
Que tinha uma forte coligação a travá-lo foi-se constatando nas sucessivas campanhas de assassinato de carácter de que foi alvo e na forma como os ulrich, os ricciardi, os salgados e os jardins gonçalves lhe foram fazendo a cama até ao xeque mate lançado com a lamentável cumplicidade de teixeira dos santos.
Infelizmente António José Seguro não mostrou até agora uma pálida aproximação á sua grandeza, justificando os receios de quem o teme capaz replicar a mediocridade de Venizelos que, na Grécia, conduziu o outrora poderoso PASOK à condição de grupúsculo irrelevante.
Não é isso que quero para o partido em que milito há 27 anos. Por isso sou dos que tenho pressa, muita pressa em ver mudado o presente estado das coisas...

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