quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

POLÍTICA: justifica-se a contestação á contestação?


As redes sociais, que tanta importância assumirão no previsível sucesso da grande manifestação de 2 de março (salvo se choverem picaretas!), vêm reagindo com desagrado às reações de alguns antigos dirigentes do Partido Socialista à contestação a que os ministros deste (des)governo têm enfrentado em cerimónias públicas.
Para alguns a surpresa virá do facto de tais posições provirem de gente teoricamente alinhada com António Costa, quando, pelo contrário os colaboradores mais próximos de António José Seguro, como foi o caso de Carlos Zorrinho, mostraram-se muito mais comedidos na condenação a tais iniciativas de agitação política.
É verdade que os dirigentes em causa (Augusto Santos Silva, Francisco Assis) ainda terão presentes os episódios igualmente complicados em que se viram envolvidos em circunstâncias políticas diferentes, quando representavam o poder sujeito a contestação. Talvez esse trauma lhes obnubile a mente em nome dos grandes princípios, que norteiam a democracia. Mas, na realidade, não existe similitude entre esse passado em que protagonizaram esse papel de vítimas de contestação e este presente em que os relvas, os passos coelhos ou os macedos, vão sentindo os efeitos das suas políticas. O nível de contestação e a sua dimensão não são comparáveis. Porque, aonde no passado, podiam-se identificar organizações corporativas por trás dos manifestantes, assiste-se neste momento a evidências de desagrado em formatos quase inorgânicos.
No dia seguinte a esses episódios recentes, a maioria das pessoas ouvidas na rua ou nos transportes manifestava grande compreensão por quem desafiara os ministros. O que significa um risco de isolamento para quem, na oposição ao (des)governo, se coloca formalmente ao lado deste último em questões de aparente liberdade de expressão. Porque ninguém é ingénuo hoje em dia ao ponto de ignorar o desajustamento de meios na emissão de mensagens políticas entre o poder e quem o contesta. O poder continua a contar com o domínio das instituições políticas e de comunicação social, enquanto o contrapoder só consegue expressar-se quando impõe a sua voz em todas as ocasiões passíveis de lhe garantirem a visibilidade nesses mesmos espaços. Daí a reação autista de tais dirigentes, que ficariam muito melhor no retrato se se limitassem a recordar como o PSD e o CDS provam agora do veneno, que tanto gostaram de ministrar quando eram oposição e se dinamizavam em todas as ações destinadas a pôr em causa o Governo de José Sócrates.
Como lembrava o Pedro Marques Lopes numa crónica recente no «Diário de Notícias»: Qualquer dia, os partidos têm a máquina mas não têm os eleitores. (…) A máquina, por definição, não é problema - nós precisamos delas para viver -, o problema é quando a máquina/partido se afasta das populações, que é exatamente o que está a acontecer.
E quando isso se tornar ainda mais evidente o contrapoder dispensará facilmente quem não tiver mostrado suficientemente determinação para denunciar a ilegitimidade democrática destes testas de ferro das oligarquias bancárias e dos fundos de investimentos especulativos… o que implicará o crepúsculo dos velhos partidos e a emergência de novas organizações mais adaptadas à dinâmica transformadora da História.



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