segunda-feira, 11 de março de 2013

POLÍTICA: Como poderíamos imaginar os efeitos do bullying sobre os betinhos?


Eu pecador me confesso: quando era miúdo fazia parte do gangue do Carlos Alberto, que adorava perseguir o Jorge Eduardo à saída da escola, sujeitando-o a bullying (ainda não sabíamos que se chamava assim!) por causa de tudo nele personificar um beto de primeira.
Na época adorávamos passar os dias a correr pelas ruas da aldeia, aonde só raramente passavam os carros ou as camionetas da carreira. E, pelo contrário, o Jorge Eduardo era obrigado pela mãe a ficar fechado em casa, sem qualquer convivência com os miúdos de rua, que éramos nós todos. Era a lógica dos meninos bem comportados, que não se deveriam dar com os corrécios malcriados da vizinhança.
Embora estivéssemos nos anos 60 reproduzíamos as brincadeiras e o espírito dos personagens do Aniki-Bobó, rodado duas décadas antes. Mas era assim o salazarismo: os anos passavam e tudo parecia ficar perfeitamente na mesma.
Voltam-me, amiúde, essas memórias, quando vejo o ministro das finanças na televisão. Desconheço como terá sido a sua escolaridade, mas imagino-a facilmente em sítio aonde era fácil ser detestado por querer mostrar-se sempre tão certinho, tão conforme com as orientações da mãezinha, que tanto se incomodaria acaso ele tivesse a irreverência de lhe aparecer em casa com os calções sujos.
O problema é que esta gente traumatizada pela marginalização dos colegas de escola torna-se tão despeitada que os temos de aturar depois neste tipo de conjuntura. Em que lhes importa continuar reverenciosos perante os poderes supostamente adultos (aqui personificados na figura obesa de uma Merckel, que lhes evocará essa tal mãezinha!). E sempre dispostos a receber-lhes os comiserados afagos, mesmo que lixando os parceiros irlandeses, quando ambos  tinham previamente combinado estratégia comum.
Um comportamento mesquinho, que Pedro Silva Pereira muito bem escalpeliza na sua crónica no «Diário Económico»: o Governo sempre gostou de desempenhar o papel subalterno do "bom aluno" obediente, que não faz perguntas, não tem posição própria e não ousa falar alto nem mesmo para defender os interesses nacionais. Para quem perfilha esta atitude subserviente e passiva, o que dá jeito é que sejam os outros a reivindicar, para depois, sem fazer ondas, aparecer a recolher os frutos do trabalho alheio. Foi assim há um ano, quando a redução de juros, pedida pela Grécia, foi atribuída também a Portugal ao abrigo do princípio da "igualdade de tratamento" e será assim agora quando, depois das novas condições concedidas à Grécia, se souber o resultado da "posição negocial" da Irlanda e da longa luta do Governo irlandês - bem anterior à formalização do pedido em simultâneo com Portugal.


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