quarta-feira, 6 de março de 2013

POLÍTICA: na morte de Hugo Chavez


A já esperada morte de Hugo Chavez desencadeou uma torrente de reações nas redes sociais, que maioritariamente se colocaram em posições extremas: de veneração milhentas, de ódio quase outras tantas. O que demonstra a primeira grande qualidade do defunto: não deixava ninguém indiferente, seja pela idolatria quanto às suas políticas assumidamente anti-capitalistas, seja pela sua raivosa condenação.
Pessoalmente pendo naturalmente para o campo dos chavistas por três razões, que importa clarificar sem azo a quaisquer tibiezas.
Em primeiro lugar, Chavez sempre se bateu pela aplicação dos dinheiros do petróleo para promover programas sociais de apoio aos mais desfavorecidos, que viram nele o garante de minimizarem as suas dificuldades suscitadas por uma sociedade extremamente desigual. Quando a revolução bolivariana se iniciou o fosso entre os muito ricos e os muito pobres era obscena e tendeu para se estreitar doravante ao longo dos anos de presidência chavista.
Em segundo lugar, e apesar de sempre denegrido pela direita troglodita da Europa e da América do Norte, Chavez exerceu o poder legitimado em eleições, que sempre ganhou apesar da intensa propaganda contra ele veiculada pelos jornais e televisões a soldo das oligarquias do seu país e das contínuas pressões dos governantes e dos espiões norte-americanos.
E, finalmente, ao contrário do que dizia Augusto Santos Silva no seu comentário semanal na TVI24, existe uma diferença abissal entre os populismos de direita e os de esquerda. Numa época em que as classes operárias dos países desindustrializados se viram para a extrema-direita (como sucede em França com a Frente Nacional ou em Itália com Berlusconi e com Beppe Grillo), existe um desafio importante a ser vencido pela esquerda: perante a inevitabilidade de ver os estratos atirados para as margens da sobrevivência serem seduzidos por discursos quiméricos por causa do seu desajustamento com os requisitos de uma sociedade de informação, até acaba por ser positivo o surgimento deste tipo de políticos, que encarnem com credibilidade os desejos coletivos por uma maior justiça e igualdade.
Não existe qualquer similitude entre o comportamento político de Chavez na Venezuela, de Morales na Bolívia ou de Correa no Equador por um lado, e o de quem assume discursos mentirosos só para arregimentar as massas de eleitores para projetos destinados a prejudica-los.
Que maior populismo se revelou nos últimos anos que o de passos coelho, quando prometeu não aumentar impostos, nem cortar subsídios, enganando assim gente justa ou injustamente zangada com as políticas do governo anterior?
Como pode um Ricardo Costa, enquanto diretor do Expresso, denegrir sucessivamente o presidente venezuelano, reduzindo-o a um mero fenómeno folclórico de raiz sul-americana e mostrar, ao mesmo tempo, condescendência com um governo, que prometeu mundos e fundos para comprar os votos dos incautos eleitores e, tão só chegado à posse do pote, se pôs a fazer tudo quanto negara vir a fazer?
Neste 5 de março temos, pois, a constatar a morte de um homem determinado, que decerto errou muitas vezes ao pretender impor uma revolução socialista no seu país, mas que nunca abdicou de derrotar, mesmo quando o cancro já o minava, todas as tentativas de fazer o tempo voltar para trás, para esse passado em que a corrupção imperava sempre em benefício dos mesmos clãs dominantes...

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