terça-feira, 9 de abril de 2013

POLÍTICA: das maiorias absolutas (que já não são) às novas eleições (que ainda deverão tardar!)

Como dizia o Hobsbawm - excelente historiador inglês recém-falecido que nada tinha a ver com o troca-tintas de quem o “Expresso” se prepara para publicar a sua visão retrógrada da História do século XX ! - podemos viver tempos difíceis, em que as dificuldades nos atingem em cheio e nos fazem olhar para a nossa própria qualidade de vida, mas eles também se revelam extremamente interessantes pelas lições providenciadas. Senão vejamos o relato objetivo que Valupi faz no blogue “Aspirina B” e que resume bem o logro em que temos vivido: Passos e Portas queriam governar com o FMI. Fizeram campanha para a capitulação do País aos mercados, chegando ao ponto de recusar o acordo que o Governo socialista tinha obtido na Europa para evitar/adiar o resgate. Aceitaram governar com o Memorando, dito conter as soluções que o próprio PSD proporia mesmo sem Troika a aterrar na Portela. E ainda receberam da população uma inércia, ou indiferença, ou complacência, ou cumplicidade, ou um pouco de cada, que permitiram desrespeitar de forma radical as promessas eleitorais e deturpar de forma insana o acordo inicial com os credores. O povo comeu e calou, nem sequer reagindo aos insultos raivosos com que os trafulhas foram colorindo a sua colossal incompetência. Foi preciso chegar-se à proposta da TSU, em Setembro de 2012, para a comunidade finalmente abandonar a letargia.
Será porventura por erro de cálculo, que julgam possível transformar novamente os portugueses em letárgicas vítimas de um golpe mágico de hipnotismo coletivo, capaz de os voltar a pôr a a acreditar nos supostos culpados do estado a que chegámos: o Governo anterior, o memorando mal desenhado, o Tribunal Constitucional e a crise europeia, que tão ostensivamente desmentiam existir quando lhes convinha votar contra o PEC IV...
Como escrevia o Sérgio Lavos no blogue “Arrastão”, o sonho de Sá Carneiro - uma maioria, um Governo, um presidente - é na realidade um pesadelo do qual não vemos maneira de acordar. Cavaco Silva ajudou Passos Coelho a chegar a primeiro-ministro, e é refém voluntário desta decisão, será até ao fim. 
Por isso mesmo esse sonho da direita, que julgava ser possível criar amanhãs que cantam à sua maneira tão só tivessem essas condições ideais para se cumprirem, estão a constituir um pesadelo para todos nós, incluindo estes (des)governantes, que dão claros sinais de andarem completamente à deriva sem saberem para que direção deverão orientar o leme. Por isso, em desespero de causa, nem sequer mostram qualquer escrúpulo em cumprirem aquilo a que se obrigaram na tomada de posse: cumprirem a Lei Fundamental do País.
No blogue “Ladrões de Bicicletas”, Alexandre Abreu constatava que agora, temos também a confirmação de que se trata de um governo que, não fora o tribunal constitucional, governaria à margem da lei, desrespeitando de forma reiterada, em dois anos consecutivos, a constituição da república portuguesa.
A guerra, que passos coelho pretende agora comprar com o Tribunal Constitucional soa a dobre de finados desse desatino. Porque, escreve Nicolau Santos no “Expresso” que não é este aumento de 0,8% no défice deste ano que põe em perigo o ajustamento económico do país. É a receita que tem sido seguida que levou a estes resultados catastróficos
Resultados que só podem continuar com gaspar à frente das finanças. Porque, como o demonstra João Galamba num excelente artigo no “Económico”, existe uma completa dissonância da visão do ministro com a realidade em que vive. Salafista das doutrinas mais reacionárias - e mais desmentidas pelos factos da última meia dúzia de anos! - gaspar continua a acreditar nas virtudes da arquitetura institucional da zona euro, na eficiência de mercados desregulados, flexíveis e concorrenciais, e na dimensão regeneradora da austeridade. Esperar que Gaspar pense de modo diferente, e que reconheça que a zona euro está a caminhar para o abismo, é pedir-lhe demasiado. Para que tal fosse possível, Gaspar teria de renegar a sua própria identidade.
Por isso mesmo, os portugueses só poderão suspirar de alívio (mas devagarinho, enquanto não souberem quem o substituirá), quando gaspar voltar para o anonimato donde emergiu em má hora para todos nós.
Mas será o discurso de eleições já, o que mais nos interessa?
Se pensarmos no alívio temporário e imediato seria uma solução. Mas, como defende Porfírio Silva no blogue “Máquina Speculatrix”, a alternativa consistente e com capacidade para se afirmar duradouramente na realidade portuguesa para a transformar de acordo com o interesse da maioria ainda está por ser criada. Nesse sentido faltam ainda umas quantas sessões do Congresso das Alternativas e umas manifestações de milhares de portugueses a desfilarem pelas avenidas das cidades a exigirem unidade das esquerdas contra o desvario desta direita troglodita para que valha a pena mudar. Porque há que mudar de vez. Por isso concluo com o referido texto que subscrevo por inteiro: Repetir a cada hora a reivindicação de eleições não faz prova suficiente de se ter feito o trabalho de casa - e arrisca ser interpretado como um jogo político com o sofrimento dos portugueses. Ou, então, mera ambição sem ponta de patriotismo - ou, vá lá, sem ponta de bom senso. De passagem, um governo Seguro que desiludisse o país nesta hora grave seria uma desgraça para os socialistas e uma festa para os maximalistas sem quartel de todos os quadrantes. 

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