segunda-feira, 8 de abril de 2013

FILMES: A trilogia "Paraíso" de Ulrich Seidl


O realizador Ulrich Seidl é autor de um golpe de mestre: a sua trilogia Paraíso esteve nos grandes festivais de cinema europeus dos últimos dois anos: Cannes, Veneza e Berlim.
Essas três obras falam de mulheres com desejos insatisfeitos, mas o título da trilogia é enganador, porque, em Seidl, o paraíso em questão é afinal um inferno.
Com um olhar impiedoso, o realizador sexagenário mostra a o lado feio do declínio, que exclui qualquer glamour ou ilusões. Os estudos de ambientes valeram-lhe logo a acusação de pornógrafo social ou cineasta do abjeto. E, no entanto, Ulrich Seidl não considera que ridicularize as suas protagonistas: eu conto a história de pessoas à procura da sua realização. Eu não me coloco acima das minhas personagens. Quero mostrar as contradições e as diferentes facetas das suas personalidades.
Confirma-se, porém, que desde o Grande Prémio do Júri do Festival de Veneza com Dogdays (2001), Ulrich Seidl é um dos grandes nomes do cinema austríaco.
Em Paraíso voltam a encontrar-se raros atores profissionais. Em Paraíso: Amor encontramos mulheres obesas e quinquagenárias a praticarem o turismo sexual no Quénia para encontrarem respostas para o desejo de serem amadas, tidas em conta.
As obsessões de uma católica fanática, dividida entre Jesus e o marido muçulmano estão no cerne de Paraíso: Fé. Este filme, que não teme nenhum tabu valeu ao realizador um processo por blasfémia em Itália.
O último título da trilogia, Paraíso; Esperança, pulveriza todas as representações morais tradicionais quando uma adolescente obesa de 13 anos apaixona-se pelo diretor da clínica de emagrecimento em que está internada.
Sinceramente tenho dúvidas sérias quanto aos efeitos do cinema provocador de Seidl. Sobretudo, porque em nenhum dos filmes parece haver redenção para as suas personagens ávidas de felicidade. Daí que o discurso niilista nele omnipresente - mesmo que disfarçado num registo grotesco - pode revelar-se muito estimulante enquanto exercício intelectual, mas em nada contribui para este momento de procura de respostas para as dificuldades vividas pelos povos europeus…


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