segunda-feira, 20 de maio de 2013

POLÍTICA: Coltan, ultraortodoxos israelitas e casamentos na Índia


Corajosa a reportagem de Pascale Mariani e de Juan Orozco, exibida no programa «Arte Reportage» deste sábado, mesmo sem conseguir as imagens mais desejadas de início: as das minas de coltan existentes na fronteira entre a Colômbia e a Venezuela.
Indispensável para o fabrico dos condensadores dos nossos telemóveis, o coltan já causou uma guerra atroz em África na região dos Grandes Lagos. Daí também ser conhecido como o «minério de sangue».
O que se passará na América do Sul, terra dos grandes tráficos e aonde jazidas foram descobertas há pouco tempo?
Em 2009 Hugo Chavez anunciou a descoberta de um importante filão nas savanas das margens do rio Orenoco. Desde então a zona foi declarada «reserva estratégica nacional».
A exploração do minério é proibida, mas os índios da região passaram desde então a viver da sua extração clandestina. O coltan passa a fronteira para as vastas planícies orientais da vizinha Colômbia, aonde dominam as FARC.
É na sequência de um encontro em Cuba com os emissários dessa guerrilha às conversações de paz com o governo de Bogotá, que a reportagem parte para essa região colombiana por ela dominada. O objetivo é filmar a prospeção de uma outra mina aonde igualmente se julga estar-se a retirar coltan.
No coração de uma zona inexplorada e de difícil acesso, em que os passageiros têm de ajudar o mestre do barco a imitar Fitzcarraldo, a equipa de Pascale Mariani e de Juan Orozco acaba por concluir que essa mina, que sustenta a guerrilha, explora um outro mineral raro e valioso: o tungsténio.
Mudando de continente, as câmaras de Uri Schneider e de Colin Rosin levam-nos a Israel para nos revelarem as dificuldades de jovens em rutura com os seus ambientes familiares aonde estavam sujeitos aos rigores de uma educação ultra-ortodoxa.
A realidade israelita é fértil em exemplos dos excessos dos religiosos mais fundamentalistas: uma rapariguinha de oito anos pode ser insultada na rua por causa da «indecência» do seu trajar e as mulheres são instadas a segregarem-se na parte de trás dos autocarros para não se misturarem com os homens. Tudo para que a Torah se cumpra!
Se as mulheres encabeçam a contestação aos rabinos, que pretendem forçar a sociedade a curvar-se ao seu severo modo de vida, alguns homens também se revoltam, abandonando a comunidade ultra-ortodoxa: todos os anos ascendem a quinhentos os jovens decididos a esse grande salto, refugiando-se nas cidades, como se ali desembarcassem num outro século, para viverem no mundo laico e moderno cujos códigos lhes são desconhecidos.
É que os ultra-ortodoxos, os “harédi”, vivem em bairros-guetos separados dos “hilonits”, os laicos.
Televisão, cinema, internet e publicidade são proibidos. Bem como a liberdade de pensar segundo cânones diferentes dos da lei religiosa.
Nesse mundo a única autoridade reconhecida é a do rabino da comunidade.
A reportagem centrou-se nalguns casos de jovens, que fugiram desse universo fechado e ultraconservador.
A terceira reportagem desta semana abordou os amores proibidos dos jovens indianos e foi assinada por Sébastian Mesquida e Yann Le Gléau.
Na Índia desde há muitos séculos que as castas são impenetráveis. Um conjunto de códigos aceites tacitamente determina a vida social e amorosa. Para muitos é inaceitável, que pessoas de castas ou religiões diferentes possam casar-se. As que se arriscam podem vir a pagá-lo com a própria vida.
Esses casais banidos e perseguidos só têm uma alternativa: ligar para o número de emergência dos Love Commandos, que possui uma rede de apoio distribuída por todo o país para proteger esses amores proibidos.
Sanjoy Sachdev, um dos fundadores da organização em 2010, deseja que as pessoas se casem por amor em vez de se submeterem aos casamentos negociados pelos pais ou pela comunidade aonde se inserem. Já temos muitos problemas na Índua, para os aumentarmos com os das pessoas privadas de se amarem.
É que, contra os contestatários de tal regra, as assembleias de aldeões ou os conselhos de castas, os Khap Panchayat, pronunciam penas que podem ir até á condenação á morte.
Todos os anos verificam-se cerca de mil crimes de honra, a maioria em três dos Estados mais ao norte do país: o Uttar Pradesh, o Pendjab e o Haryana.
O conservadorismo socio-religioso continua a condicionar as futuras uniões conjugais, quer entre os hindus, quer entre os muçulmanos.
Assim, para sobreviverem, os amantes são obrigados a fugir ou a esconderem-se, com o medo a tolher-lhes as mentes. Desde há três anos, que as linhas telefónicas dos Love Commandos tocam dezenas de vezes ao dia. Em obscuras ruelas de Nova Delhi ou de Jaipur, a organização combate esse pacto social anacrónico e põe em causa um sistema secular.

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