sábado, 27 de julho de 2013

FILMES: «When we were kings» de Leon Gast e «Ali» de Michael Mann

Em 1974 um audacioso organizador de combates de boxe, Don King, convence Mobutu a financiar e a acolher em Kinshasa aquele que será o primeiro «combate do século organizado em solo africano» e precedido de três dias de concertos com os grandes nomes de então da soul music: James Brown, B.B. King, etc.
Num dos topos do ringue estava o pugilista mais mediático do planeta, Mohamed Ali, então com 32 anos, e que fora privado do título de campeão do mundo por lhe terem retirado a licença entre 1967 e 1970 devido à recusa em combater no Vietname (Nunca nenhum vietcongue me chamou “preto”, justificara). No outro topo estava o detentor do título, George Foreman, então com 25 anos, com a fama de nunca ter conhecido a derrota até então.
É sobre esse combate de titãs, que trata o filme mais interessante a ser transmitido este fim de semana no canal ARTE (domingo 28 às 22.15).
When we were Kings ganhou o Óscar do melhor documentário em 1997 e constitui um testemunho valioso dessa época.
Vinte e três anos antes, Leon Gast, o realizador, chegara a Kinshasa para rodar um documentário sobre a componente musical do evento. Mas, entretanto, o combate teve de ser adiado durante cinco semanas para possibilitar a Foreman a recuperação de uma lesão. Gast irá então acumular duzentas horas de filme sobre os bastidores e a ambiência, que envolve o combate. Mas a produção fica sem dinheiro e o filme ficará durante mais de vinte anos na gaveta. Quando foi, enfim, montado, constituiu um testemunho impressionante sobre a imensa esperança de mudança, que Mohamed Ali personificara.
Antes desse documentário de referência, o mesmo canal apresenta o filme que Michael Mann rodou em 2002 sobre o pugilista, aqui personificado por Will Smith.
Recorda como, em 1964, ele ainda era Cassius Clay, tinha 22 anos e tornara-se o campeão do mundo de pesados, vencendo o consagrado Sonny Liston.
De um dia para o outro ele aproveita a visibilidade de tal sucesso para a colocar ao serviço da causa em que acredita: a do seu islamismo militante contra a opressão dos Brancos.
Recordemos que a América ainda não vivera o sobressalto cívico personificado por Martin Luther King e o racismo era sentido diariamente por quem possuía a cor errada.
Daí que uma boa parte da América vá execrá-lo, quando ele proclama a recusa em manter o nome por que era conhecido (e próprio de um escravo) substituindo-o por Mohamed Ali, mais conforme com a sua militância na «Nação do Islão», aonde se torna amigo de Malcolm X. Norman Mailer diria então que ele era o maior ego da América!
Ao contrário do documentário de Leon Gast, aonde testemunhamos o homem e a sua circunstância, o filme de Michael Mann vai focalizar-se na sua solidão e vulnerabilidade, esbatendo-lhe a faceta de quem tinha por divisa, quando combatia, que voava como uma borboleta e picava como uma abelha.
A banda sonora é, no entanto, uma das principais razões para ver o filme de Michael Mann...


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