quarta-feira, 7 de agosto de 2013

FILME: «A Gaiola Dourada» de Ruben Alves


Confesso que comecei por ficar bastante cético a este filme de Ruben Alves, quando se estreou em França.
Muito embora passos coelho & Cª porfiem em voltar a regredir os portugueses à época em que passavam a fronteira com a mala de cartão, ainda tenho a esperança de se salvaguardar uma parte desse Portugal moderno, cosmopolita e pejado de gente culta e de elevada formação, tal qual o pretenderam os governos de José Sócrates. Por isso mesmo, quando soube tratar-se de uma comédia popular sobre uma família constituída por um pedreiro, uma porteira e os respetivos filhos, temi o pior. Tanto mais que eram apresentados como humildes, servis e trabalhadores, o que parecia dar razão aos estereótipos justificativos de um racismo tipicamente francês para com esses emigrantes da ponta ocidental do continente.
Mas as primeiras opiniões ouvidas sobre o filme - de quem está em França há quase quarenta anos e conhece bem as múltiplas realidades da emigração - questionaram-me o preconceito inicial. Até porque reconheciam algum agrado na forma como os portugueses eram aí tratados.
Nada melhor do que tirar as dúvidas no dia subsequente à estreia em ecrãs nacionais.
A primeira parte pareceu dar razão às minhas dúvidas iniciais. Nas interpretações de Rita Blanco, Joaquim de Almeida ou Maria Vieira passava a ideia de gente inculta e subserviente para com esses patrões, que os tomavam por lorpas.
Passa o intervalo e vem a segunda parte com esse jogo de enganos em que o casal tenta iludir a iminência do regresso à terra natal, sem imaginarem o quanto já todos à sua volta estavam cientes dessa forte probabilidade.
Como nas comédias mais conseguidas é pelo equívoco, que o espectador se diverte, ao colocarem-no na situação confortável de saber aquilo, que escapa aos personagens da tela.
Mas fica sempre a questão: se em vez do lusodescendente Ruben Alves fosse um francês genuíno a assinar a realização, veríamos o filme com a mesma benevolência? Ou não reconheceríamos nele esse vício xenófobo, que suspeitei nele encontrar?


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