sexta-feira, 1 de novembro de 2013

POLÍTICA: os miolos ou a falta deles?

É claro que o pomposo guião da reforma do Estado vai desaparecer rapidamente das páginas dos jornais e dos programas de informação das televisões, porque a quinta coluna do governo aí sedeada tudo fará para fazer esquecer o que terá sido mais uma manobra de propaganda fracassada de tão inábil se revestiu.
A melhor reação ao “conteúdo” desse documento veio de José Pacheco Pereira, que lembrou, muito a propósito, aquilo que Camilo Castelo Branco escreveu um dia a um adversário: "Saiba Vª Exª que comi os seus miolos ao pequeno almoço e me sinto em completo jejum.“
De facto, a vacuidade das “ideias” ali propostas, incomodou até setores jornalísticos habitualmente complacentes com as malfeitorias da equipa de passos coelho e de paulo portas. O melhor exemplo disso mesmo veio de André Macedo, o diretor do «Dinheiro Vivo», que escreveu um texto impiedoso sobre tal guião:
“É uma loja dos 300 onde, no meio de ideias copiadas, avulsas e superficiais, encontramos um ou outro ponto que é possível debater, mas apenas por causa do nosso desespero coletivo. O que resulta dali é tão-só uma salganhada ignorante, uma coleção de chavões e banalidades que não são mais do que a redação pueril de um candidato a uma juventude partidária que passou os olhos na biografia de Hayek, a da Wikipédia. 
O célebre guião, este guião, esta coisita, não é um ponto de partida. A ser qualquer coisa é um ponto de chegada. É o fim da linha. É o epílogo que arrasa as últimas aparências que ainda restavam sobre este grupo de estagiários que o País tragicamente elegeu.
É a prova documental de que o Governo não sabe o que está fazer - cumpre metas impostas externamente - e nem imagina para onde irá a partir daqui. O texto que demorou dois anos a produzir é tão rudimentar que na verdade é apenas embaraçoso. Ontem senti vergonha alheia por Paulo Portas - o presidente do CDS acabou.
Não compreendo, a não ser por vingança, raiva e desprezo profundos, como Passos Coelho foi capaz de o autorizar a apresentar esta manta de retalhos, este patchwork - Portas deve apreciar a palavra - que era suposto criar as bases para a mudança que o País terá um dia de enfrentar.’
Mas vergonha também foi palavra utilizada pelo deputado socialista Eduardo Cabrita. Para ele “o Governo devia corar de vergonha e pedir desculpa aos portugueses”. Porque, mesmo quando se vem gabar de uma balança corrente de transações positiva, só se vem equiparar com um ditador de má memória e com o contexto específico em que tal situação se verificou: "Quanto ao tão falado equilíbrio da balança corrente que não acontecia de facto há décadas, deviam ter de facto algum puder em o referir. De facto esse saldo positivo aconteceu pela última vez há muitas décadas, têm razão, durante a segunda guerra mundial, quando Portugal estava à fome e quando as receitas do volfrâmio nazi financiavam as receitas do Estado. Não é esse o Portugal de hoje, sobretudo nunca será esse o Portugal que queremos”.
Mas este governo cuja comunicação é feita de mentiras compulsivas e de convicções sem conteúdo, também se vem gabar do crescimento animoso das exportações, sabendo tratar-se de uma ridícula falácia. Porque, como explicou Pedro Nuno Santos, no «i», os dados do INE mostram-nos que “70% do crescimento das exportações é explicado somente pelo aumento da capacidade de produção da refinaria de Sines. A este propósito, seria também importante referir que as exportações de combustíveis integram uma elevada componente de importações, e portanto representam um reduzido valor acrescentado.”
Porque toda a sua aposta na austeridade só está a conduzir o país para um desastre tenebroso, a esperança da coligação reside agora em ter tempo de ainda levar por diante a subversão constitucional, antes de ser empurrado para fora das cadeiras do poder. Sobretudo para aí impor a regra de ouro de um défice máximo, em nome da qual todas as demais garantias sejam subalternizadas. Precisando para tal do Partido Socialista, que, durante as próximas semanas, será contemplado alternadamente com cantos de sereia ou com ameaças de excomunhão.
Mas foi a própria Manuela Ferreira Leite quem explicou muito claramente que, perdidas as políticas cambiais e a definição das taxas de juro com a entrada do euro, que soberania nos restaria se abdicássemos da capacidade para definirmos as nossas próprias políticas orçamentais?


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