sábado, 16 de novembro de 2013

POLÍTICA: A propaganda do governo e a autocensura da classe jornalística

Às seis da tarde liguei-me à SIC Notícias para ver como ia o nosso cantinho à beira-mar plantado e dou com uma insólita conferência de imprensa de passos coelho durante a visita a uma Misericórdia. E insólita, porque o quarto de hora, que se seguiu, foi de eloquente demonstração de uma encomenda promovida pelo governo junto de jornalistas suficientemente servis para lhe irem fazendo as perguntas mais convenientes.
Na mesma altura em que a «Visão» e o André Macedo no «Dinheiro Vivo» denunciam as estratégias de vítor gaspar para, há dois anos atrás, criar a narrativa anti-Sócrates de forma a diabolizá-lo como único e exclusivo responsável pela crise desde então sujeita a intensa cura de austeridade, a classe dos jornalistas continua a revelar uma falta de dignidade, que dá razão ao que Baptista Bastos há muito vem dissertando sobre ela. Não terão porventura coluna vertebral para assim se curvarem obsequiosos perante o indigno poder, que nos insulta?
Fomos então agredidos na nossa inteligência com passos coelho a fazer uma longa elucubração sobre os cortes nos salários e nas pensões de reforma a que os irlandeses se sujeitaram, e por isso dobraram o Cabo das Tormentas e, ainda querendo ultrapassar todos os colegas em capachice, houve outro entrevistador a arriscar sobre se não seria judiciosa a complacência do tribunal Constitucional com o Orçamento que, em breve, apreciará.
Aqueles minutos foram suficientes para esclarecer as razões, porque o PSD e o CDS não caem nas sondagens tanto quanto as suas políticas justificariam e o Partido Socialista continua a não ser visto como grande alternativa apesar de não faltarem propostas de políticas alternativas às do governo: com todos os jornais, rádios e televisões na posse de gente de direita, tornou-se arriscado praticar um jornalismo honesto na maioria dos órgãos de comunicação social. Os mais ousados já foram ou não deixarão de ser despedidos, enquanto os demais ou se vergam ao servilismo acrítico ou vão iludindo a sua indignação em subentendidos, que lembram os dos seus velhos colegas do antes do 25 de abril, quando davam largas à imaginação para iludirem a censura.
O Novo Ciclo de portas, poiares e lomba está aí em todo o seu esplendor: as políticas continuam a ser desastrosas, mas a propaganda ainda vai conseguindo dourá-las, como se de ouro fossem revestidas!


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