terça-feira, 3 de dezembro de 2013

POLÍTICA: a mentira como método de comunicação com os portugueses

A mentira como método de comunicação é uma das mais conhecidas características da coligação entre o PSD e o CDS. Começou na campanha eleitoral de maio de 2011 quando passos e portas prometeram o céu e a terra aos eleitores que tinham estado sujeitos pelos jornais e televisões a execrarem José Sócrates enquanto causa de todos os males da Nação. Passados dois anos e meio essa mesma estratégia de comunicação reitera-se todos os dias, bastando para isso darmo-nos ao trabalho (e ao sofrimento!) de ouvirmos as palavras dos ministros, secretários de estado e deputados dos dois partidos. Com destaque óbvio para passos coelho.
Neste fim-de-semana ele brindou-nos com mais uma pérola das suas memórias mentirosas: "Eu lembro-me bem de termos passado por tempos parecidos, não exatamente iguais, mas muito parecidos, 1983 e 1985, e ainda me lembro bem de termos passado ainda por problemas bastante delicados, parecidos com estes últimos em 1977, 1978. De resto, ainda me lembro bem de ter chegado de Angola há não muito tempo e de ser preciso de acordar bem cedo para ir para a fila arranjar leite para poder consumir em nossa casa - havia racionamento de alguns produtos essenciais"
Alguns ingénuos terão porventura acreditado, e até sentido comoção com o sofrimento do petiz retornado, mas quem viveu esse período tem uma certeza: depois do 25 de abril nunca houve qualquer racionamento do leite ou de bem algum!
Já se sabia, mas confirma-se: a falta de escrúpulos do (ainda) primeiro-ministro não tem limites.
Outra mentira, porventura de consequências bem mais graves, esteve igualmente em destaque por estes dias: a operação de troca de títulos da dívida, que deveriam ser amortizados em 2014 e 2015, e passaram agora para 2017 e 2018, ou seja para datas da responsabilidade do próximo governo.
O que esteve em questão foi o adiar, tanto quanto possível, a evidência do fracasso da política seguida por vítor gaspar e agora continuada por marilú albuquerque, e que todos já sabem redundar na impossibilidade do pagamento da dívida. Assim, em vez de avançar para a necessidade de a reestruturar e conseguir a extensão da sua maturidade, o (des)governo de passos coelho vai adiando o problema para iludir as suas responsabilidades criminosas quanto ao estado a que chegámos.
Mas, se as vozes internas não chegam para convencer os ainda defensores da austeridade custe o que custar - cada vez mais reduzida a estarolas como césar das neves e camilo lourenço ou a fanáticos ideológicos como vítor bento! - aí tivemos em Lisboa a presença do respeitado Mark Blyth, professor de Economia da Universidade de Brown, e autor de «Austeridade — A História de Uma Ideia Perigosa», acabado de lançar pela Quetzal.
Da entrevista, que ele proporcionou ao «Público» de ontem vale a pena reter algumas partes: 
· a respeito da possível necessidade de sairmos do euro ele contrapõe “uma coisa muito mais simples, que é não aplicar mais austeridade. A austeridade agora é não só inútil como contraproducente”. No fundo aquilo que vem sendo defendido por José Sócrates desde que iniciou a sua colaboração semanal com a RTP. E acrescenta o entrevistado: “Parem com as políticas estúpidas e um cenário de estagnação prolongada já não acontece.”
· sobre a contradição entre o princípio moral de se pagar a dívida e as consequências danosas para a população ele considera que “uma atitude moralista muitas vezes não tem bons resultados económicos”.
· a austeridade, tal qual vem sendo aplicada corresponde verdadeiramente a “um pacto suicida entre todos. A austeridade na base é fazer consolidação orçamental e isso, por si só, não é negativo. Mas é preciso fazê-lo quando se está a crescer. E todos os casos de sucesso da austeridade que existem – Dinamarca, Austrália, Canadá, etc. – mostram isso. Na Europa, os países não têm a sua própria divisa e exportam uns aos outros. Esta austeridade na Europa é um verdadeiro pacto suicida.”
Caberá perguntarmo-nos quantas intervenções de gente lúcida e bem ciente da interpretação, que faz da realidade económica e política atual para que passos & Cª se convençam do anacronismo, que representam neste momento histórico do país e saiam do poder pelo seu próprio pé, como lhes aconselhava Mário Soares.
Os efeitos danosos destes dois anos e meio serão terríveis no futuro a médio prazo, como se depreendem das conclusões provenientes de diversas fontes. Agora foi a Comissão Europeia a trazer previsões que compromete, uma vez mais, o discurso ridiculamente otimista de pires de lima ou de paulo portas sobre o fim da crise: mesmo que se confirmassem as previsões do Governo de regresso a taxas de crescimento positivas já no próximo ano, Portugal irá sair da crise com menos pessoas do que quando entrou - um caso inédito entre os países que mais pressionados têm sido para corrigir os seus desequilíbrios orçamentais.
É dos livros que, com menos população - até porque a que saiu estava entre a que tinha mais qualificações! - a capacidade do país para ser mais produtivo, competitivo e inovador perdeu-se por muitos e longos anos.
O que torna ainda mais repulsivas as lágrimas de crocodilo  de passos coelho quando, anteontem, lamentava a saída de tantos e tão qualificados jovens do país. Ele que os convidara a “sair da sua zona de conforto” e a procurarem solução profissional fora do cantinho à beira-mar plantado...


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