sábado, 18 de janeiro de 2014

DOCUMENTÁRIO: «Story - I'm a Space Person» de Dana Ranga (2003)

O que sente um astronauta, quando passa dias a fio no espaço? Uma questão, que é bastante bem respondida neste documentário em que contamos com um veterano da Nasa para nos dar conta das suas experiências.
Nas primeiras cenas encontramos uma legenda a apresentar-nos o protagonista:  Story Musgrave nasceu em 1935 em Boston no Massachusetts e, além de astronauta, estudou matemática, informática, química, fisiologia e cirurgia. Acessoriamente também se apresenta como poeta.
Como se estivesse no confessionário do «Dogville» de Lars von Trier ele olha a câmara e conta as circunstâncias em que ouviu a notícia de a Nasa procurar cientistas para os seus voos espaciais e se sentiu atraído por essa hipótese, já que intuía em si a condição de “ser espacial”.
Mas entre a entrada na Nasa e o seu primeiro voo decorreriam dezasseis anos, em que estaria em Houston no apoio aos astronautas do Programa Apolo, que estavam a alunar, destacando-se pela sua preocupação com os detalhes.
Alternando entre as imagens dele em primeiro plano, normalmente de olhos fixos na câmara, e soberbas imagens colhidas no espaço, o documentário vai prosseguindo com a longa confissão de Story sobre a sua experiência. Nomeadamente como se adaptou tão bem ao espaço, que quase não passou pela sensação de enjoo. Resultado de uma boa preparação em terra. Ficava assim rapidamente disponível para o prazer, para o êxtase puro da experiência, que estava a viver.
Ele explica que o facto de nunca ter sentido incómodo nas viagens pelo espaço, também terá fundamento no facto de sempre ter desejado viver experiências incomuns, de querer alcançar perceções diferentes das habituais, de alcançar a dimensão da irrealidade.
A obscuridade fantástica do espaço nunca lhe pareceu sempre igual. Consoante se deslocava na luz, ou na sombra, a escuridão ia-se modificando. Como se tivesse uma textura própria, que se deixasse tocar.
Uma das curiosidades para que procurou resposta, sobretudo quando saía da estação espacial, era se ouviria alguma espécie de som, nem que fosse sob a forma de rumor, do que a Terra emitiria na sua rotação. Sem jamais conseguir alcançar senão o silêncio mais profundo.
Das diversas paisagens da Terra, vistas da sua órbita, a que mais o fascinou foi o conjunto de atóis de Ouvéa. Uma espécie de colar, sem nuvens, com uma limpidez inigualável. A beleza no estado puro!
Após as suas seis viagens, confessa-se basicamente o mesmo, apesar da experiência de enriquecimento pessoal propiciado por essa aproximação ao cosmos.
Já numa floresta, aonde evoca as paisagens da sua infância, Story recorda a mãe, com quem tivera uma relação muito calorosa até as relações conjugais turbulentas a fazerem cair no álcool e a levar a partir. Pelo contrário Story sempre se distanciara do pai violento e de carácter difícil, que acabaria por se suicidar.
Fazendo o inventário das suas perdas também recorda a morte dos irmãos, aos 25 anos, um igualmente por suicídio e o outro por acidente num porta-aviões. Acontecimentos que o obrigaram a lidar com a dor. 
Mas também viveu o amor com Patrícia, que conheceu na cantina da Universidade e lhe daria seis filhos. Mas acabando por se separarem. Na época da rodagem do filme, Story confessava-se incomodado com a sua solidão.
Agora, para vencer a tristeza de já não regressar ao espaço ele dedica-se à arte das imagens (a fotografia) e das palavras (a poesia). Para continuar a reinventar-se!
  

Sem comentários:

Enviar um comentário