quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

FILME: «Yellow Caesar» de Alberto Cavalcanti (1941)

Realizada em 1941, esta curta-metragem de 24 minutos constitui um excelente documentário de agitação e propaganda produzido pelos Ealing Studios, quando a Segunda Guerra Mundial ainda estava na sua primeira fase, com a aliança entre Hitler e Mussolini a parecer invencível nos campos de batalha.
Alberto Cavalcanti, então a viver em Inglaterra, propôs-se fazer uma «avaliação» da biografia do Duce, mormente da forma como ele conseguira ascender ao poder. Para tal inicia com a revelação das origens humildes do político e o seu progressivo domínio dos métodos mais demagógicos para se afirmar, primeiro como sindicalista, depois como chefe político.
Mas Cavalcanti passa ao lado das regras convencionais do documentário para ridicularizar Mussolini através das muitas imagens de arquivo, que trabalha através do recurso à câmara lenta, à inversão dos movimentos e outras estratégias passíveis de ilustrar eficientemente a mordacidade do comentário co-escrito por Michael Foot, um lendário ativista da esquerda britânica, que viria a ser um episódico líder do Partido Trabalhista entre 1980 e 1983. A música e os efeitos sonoros dão um contributo adicional e imprescindível para que Mussolini seja visto como um mero poltrão.
É certo que o filme tem as fragilidades inerentes ao imediatismo do seu propósito e pela escusa de qualquer subtileza, mas não deixa de ser inovador no âmbito de um tipo de cinema quase exclusivamente orientado para a criação de um efeito mobilizador junto do espectador. Mas, segundo Jay Leyda, Yellow Caesar talvez seja uma das obras mais criativas da sua época: “Alberto Cavalcanti retoma imagens do ditador italiano para construir uma estrutura narrativa completamente antagónica ao propósito para o qual tais imagens foram inicialmente realizadas. Elabora uma crítica política contundente através do gesto estético de modificar e deslocar a natureza do discurso/imagem original.”


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