quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

POLÍTICA: Antes de secar o rio costuma parece recuperar fluxo, não é?

De que é feita a atual campanha de mistificação da realidade, que a coligação psd-cds alimentará até 17 de maio, quando a realidade do programa cautelar lhe cair em cima?
Primeiro temos a manipulação dos números. Os do desemprego, que nos dizem estar em descida abrupta há nove meses consecutivos. Como já não aconteceria desde os alvores da década de 90. Infelizmente o Alberto Martins congratula-se com os números da mentira e é preciso ouvir do João Oliveira a resposta que se impunha: no dia em que todos os desempregados tiverem emigrado ou desistido de se manterem ingloriamente inscritos nos Centros de Emprego, o (des)governo até poderá dizer que o desemprego é zero. Mas quem nele acreditará?
Depois temos a semântica imaginativa. Além da “requalificação” para designar “despedimento” ou a “convergência de pensões” para falar de “cortes”, preparamo-nos para ter de portas uma nova tradução para irrevogável. Está prometido no congresso: irrevogável quererá mesmo dizer irrevogável mas para com o que ele julga ser o “interesse do país”. O problema semântico está mesmo nesta última expressão: se não o chatear com a sua presença, o país está-se marimbando totalmente para as suas irrevogabilidades!
E há ainda a mentira mil vezes repetida para mascarar de verdade o que não o é. Com a força bruta dos tiranos franquistas, que Unamuno enfrentou, a maioria parlamentar aprova a coisa obscena que a irmã do anão mendes confecionou para negar a evidência da culpabilidade da marilu no caso dos swaps e nega à oposição a constituição da comissão destinada a apurar o crime económico e social iminente nos Estaleiros de Viana.
Será isto bastante para serem bem sucedidos? A acreditar no filósofo José Gil, que corrobora a conhecida leitura de Mário Soares, a escalada da violência social tende a agudizar-se. Com muitas e boas razões para se manifestar de formas cada vez mais inesperadas e inorgânicas. Indignando-se, por exemplo, com os cortes na Saúde, que motivaram o  anunciado homicídio de uma paciente a quem o Hospital da Amadora-Sintra demorou dois anos a efetuar a colonoscopia ou o expectável aumento dos casos de tuberculose no norte do País.
Mas, se formos para outras áreas de intervenção desta gente, os exemplos suscetíveis de causarem furor acumulam-se. Por exemplo na Investigação Científica onde nuno crato nomeou a mulher e os amigos para decidir a gestão das bolsas e ameaça destruir por muitos anos o excelente trabalho de Mariano Gago.
Até é possível que passos e portas se convençam de estarem a conseguir a inflexão do clima negativo, que ameaçava arredá-los do «pote» ainda há meia dúzia de meses. Mas, cá por mim, eles desconhecem aquele final do «A Um Deus Desconhecido» do Steinbeck, que explora a circunstância bem conhecida de como um rio prestes a secar de vez, parece revigorar-se momentaneamente, dando a ilusão de voltar a recuperar o fluxo intenso, que se lhe conhecera.
Em breve nem como zombies passos e portas terão cabimento num país, que quase quiseram transformar em estéril terra queimada...




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