segunda-feira, 17 de março de 2014

LITERATURA: Violette Leduc ou o furor da escrita

Sexualidade, homossexualidade e aborto.: Violette Leduc abordava sem eufemismos, e com estilo, os temas tabus dos anos 50 e 60.
Um bom motivo para que a realizadora Esther Hoffenberg lhe dedicasse um documentário alusivo a uma escritora bastante à frente do seu tempo, superando nesse aspeto a sua amiga Simone de Beauvoir.
Segundo ela o fascínio surgiu em 1970, quando Pierre-André Boutang lhe dedicou um curto retrato numa das suas emissões televisivas. “Fiquei fascinada pela sua lucidez e pelas suas histórias amorosas muito complicadas, quer com mulheres, quer com homens, sem esquecer os problemas psicológicos e a forma de viver a solidão.”
Foi nessa altura que Esther Hoffenberg partiu à descoberta dos seus romances, começando por “Ravages”: “logo nas primeiras páginas fiquei rendida à sua escrita complexa e límpida, crua e incrivelmente poética.
Nunca se sentira tão impressionada por uma linguagem literária desde que descobrira Proust. O projeto do documentário «Violette Leduc: La chasse à l’Amour» é assumido como tentativa de reparação do relativo esquecimento em que caiu a obra de Violette Leduc.
Esther Hoffenberg pretendeu centrar-se na escrita enquanto realização de si mesma, forma de superação das dificuldades e sacerdócio.  Uma parte do trabalho foi orientado para a ligação entre a sexualidade e a linguagem na busca da identidade da escritora, dedicando-se uma outra à relação com Simone de Beauvoir, que lhe garantiu um importante apoio financeiro e editorial e se tornou na musa e destinatária dos seus livros.
Desde 1945, que as duas escritoras passaram horas a discutir, a ler e a corrigir manuscritos. E, em 1964, Simone assina o prefácio a «La Bâtarde», que revela um conhecimento íntimo da obra e da mulher.
Violette Leduc sofreu bastante com o insucesso da sua obra, que não conseguia ter êxito editorial. Depois veio a censura. Nos anos 50 as edições Gallimard exigem-lhe a amputação do início de «Ravages», que evocava a iniciação sexual com uma colega de colégio, bem como as páginas consagradas ao seu aborto, de que fizera uma descrição pormenorizada e emotiva.
Embora tenha acedido a cortar algumas passagens, recusou outras. Simone de Beauvoir bem a tentou defender, mas sem sucesso, e só cinco anos depois é que o livro foi publicado.
Para Esther Hoffenberg, Violette Leduc foi pioneira da geração de 1968 ao recusar a maternidade, a normalidade sexual e o pensamento burguês. E ao fazer da palavra escrita uma arma ao serviço das suas ideias.
É claro que o custo que pagou foi elevado e ainda hoje muitos professores escusam-se a integrar os seus livros nas aulas com receio da reação da hierarquia e dos pais dos alunos.


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