sábado, 17 de maio de 2014

CIÊNCIA: a guerra do cérebro

O cérebro continua a suscitar uma curiosidade tão insaciável, que justifica a criação de dois programas científicos destinados a aprofundar-lhe o conhecimento, um lançado por Barack Obama nos Estados Unidos - o «Brain Iniciative» - no valor de 300 milhões de dólares oriundos de fundos públicos e privados, e outro lançado a nível europeu - o «The Human Brain Project» -, com 1190 milhões de dólares, que reúne a colaboração de oitenta instituições dos Estados membros da instituição sediada em Bruxelas.
Sean Hill, um dos responsáveis pelo projeto europeu, explica a sua importância para a compreensão do funcionamento do cérebro, mediante o recurso a tecnologias informáticas, que poderão implicar ganhos para estas e para a Neurologia. Uma das vantagens mais óbvias, que se esperam alcançar, é a de encontrar a cura para diversas patologias do cérebro.
Cori Bargmann, que está ligada ao projeto norte-americano, critica a metodologia do projeto rival, porque vê nele apenas uma compilação de todos os dados já conseguidos até hoje para lhes dar tratamento informatizado esperando obter avanços a partir do cruzamento dessas informações, enquanto o «Brain Iniciative» propõe-se ir mais longe e encontrar novos saberes até agora desconhecidos. Para tal aposta na cartografia do cérebro, que conta suscitar ainda maior entusiasmo público do que o verificado com a primeira viagem do homem à Lua, porque mostrará o percurso  cumprido por uma informação desde que captada por um dos sentidos até chegar ao seu destino final numa das zonas do cérebro. Mas permitirá, igualmente, prevenir lesões cerebrais mediante uma aplicação destinada a alertar para uma anomalia tipo derrame a iniciar-se.
As investigações em torno do cérebro levantam questões éticas relacionadas com o respeito da vida privada de quem nelas colabora ou virá a ser de alguma forma afetadas por elas. Por exemplo nada impede que elas desemboquem na concretização de um detetor mental da mentira de alcance muito mais eficaz do que o polígrafo com incidências judiciárias. Ainda mais perigosas serão as aplicações, que possam identificar algumas propensões para o crime ou outras formas de delinquência, passíveis de justificar a prisão preventiva de quem as veja em si identificadas, mesmo que tenha tido até aí uma conduta irrepreensível. Estaríamos, então, numa sociedade totalitária de contornos assaz sinistros.
Mas espera-se que as vantagens sejam, de facto, a nível das patologias neurológicas: com o envelhecimento progressivo da população, os custos mundiais com doenças como o alzheimer crescerão exponencialmente, que convirá tornar evitáveis mediante terapias preventivas adequadas.


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