terça-feira, 13 de maio de 2014

FILME: «No Olho da Rua» de Rogério Corrêa

Um dos grandes méritos do patronato e do titereiro-mor dos seus interesses à frente do suposto governo da Nação, foi conseguir a desafetação dos trabalhadores dos seus sindicatos, que têm diminuído em número de associados e em receitas. Ou contar com falsos sindicatos, que se intrometem entre o patronato e os trabalhadores para melhor servirem os senhores do capital.
Não é difícil encontrar quem, nos ambientes laborais arranje como alibi a ideia de que os sindicatos nada fazem e não merecem o dinheiro, que se desconta para eles. Como se tais organizações fossem propriedade dos seus dirigentes e não dos associados, cuja militância tanta falta faz para melhor resistirem aos ataques sucessivos disparados contra os seus direitos e garantias.
O resultado de tudo isso é um movimento sindical fragilizado, incapaz de levar por diante a grande dinâmica de expressão da indignação social, que voltasse a remeter os seus inimigos de classe para as recuadas trincheiras onde, não há muito tempo, eles estavam na defensiva.
O filme brasileiro «No Olho da Rua» é uma tragédia social sobre um desses individualistas sem qualquer crença política ou sindical que conhecerá toda a via sacra do desemprego e de todas as perdas, que se lhe associam (a da família, a da casa onde vivia, a do carro que lhe servira de ferramenta de trabalho, etc.) e morrerá ingloriamente a nem sequer conseguir a vingança assassina com que julgaria possível devolver o custo do seu sofrimento.
Tratando-se do primeiro filme de Rogério Corrêa - ainda que o projeto tenha amadurecido durante dez anos entre a sua conceptualização e respetiva tradução em filme - sentem-se óbvias fragilidades, quer no argumento, quer na direção de atores de algumas cenas. Mas, embora equívoco nalguns dos seus aspetos, o mérito do filme é o de mostrar como o trabalhador fica fragilizado, quando não se organiza nem associa a sua força reivindicativa a outros irmãos de classe.
Sozinho a lutar contra tão poderosa engrenagem, ele está condenado. E essa é a conclusão a que, muito tardiamente, chega o protagonista do filme...



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